terça-feira, 17 de janeiro de 2023

We have no more beginnings: Diálogos da Vagina

El mokabeul (desordeira) - Assim é chamada a vagina da mulher que arde sempre por um membro viril. Longe de temer um membro duro e teso, olha-o com desprezo e pede outro ainda mais rígido.
Esta é a vulva que não estremece nem se ruboriza, como as outras, quando as vestes que a cobrem são suspensas; que, ao contrário, acolhe calorosamente o membro, deixa-o repousar sob o seu domo abaulado e introdu-lo no seu centro como se quisesse engoli-lo; tão profundamente, na verdade, que os testículos exclamam: «Oh, que infortúnio! O nosso irmão desapareceu! Estamos preocupados com ele, porque ele se atirou ousadamente neste abismo. Deve ser doido, certamente, para penetrar como um dragão em tal caverna!» Ouvindo tais lamentações, a vulva, desejosa de afastar a aflição dos testículos, diz: «Nada temais quanto a isso, ele está vivo e os seus ouvidos ouvem as vossas palavras.» Ao que eles respondem: «Se o que dizes é verdade, ó senhora de belo semblante, deixa-o sair, para que possamos vê-lo.» A vulva responde: «Não o deixarei sair vivo; só depois de a morte o derrubar». Os dois testículos imploram: «Que pecado cometeu ele, para o pagar com a vida?» E a vagina: «Pela existência daquele que criou os céus, não há maneira de sair de mim senão morto!» E depois, dirigindo-se ao membro: «Ouves as palavras de teus dois irmãos? Apressa-te a mostrar-te a eles, pois a tua ausência mergulhou-os em grande aflição!» Após a ejaculação, o membro retorna reduzido a nada e como uma sombra; mas os irmãos não o reconhecem e perguntam: «Quem és tu, moleza fantástica?»


Xeque Nefzaui, O Jardim Perfumado (trad. Orlando Loureiro Neves)

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