Home improvements (in those dark days)
«De discos assim se pode facilmente dizer que é incipiente, diletante, inconsistente, mera recolecção de esquissos inacabados de um trejeito melódico que alguém trauteou ao ressentir a sombra assoberbante de um plátano na prazenteira decadência de vogar em malaise urbana, ou, ao inverso, ao contemplar a fímbria de luz que entre dois prédios agracia por 5 minutos ao dia no Inverno quando se dispõe solarengo a sardinheira dependurada pelo olvido dos gestos na esquina do aparador na sala, e que achou que seria boa ideia guardar no gravador caseiro para esgravatar inspiração passada em dias de aridez anímica. Ah, pequeno pormenor, o estuporado dilentante que soprou como quem não quer a coisa estes débeis apontamentos de canção, e para não desperdiçar a limitada vitalidade das nossas cordas vocais teve o desplante de deixar que os ornassem com guitarrita aqui para a febre orgão acolá para a imersão trompete no entretanto para a evocação e sim até batidas à papo-seco incluídas no pacote do estúdio, e já agora os editassem em CD e, porque não?, com umas fotos de plantas em vasos no livrete, porque de facto who are we kidding? isto é tudo muito chapadinho lá de casa, é Stuart (com licença, A.) Staples, em primeiro registo a solo, em pausa (hopefully) de Tindersticks (a desmemória ou ignorância da derme sempre precariamente cicatrizada exige mesmo que se mencione os Tindersticks? Claro que não. A anti-séptica derme ao raio qu’a parta. Nós sim, exigimo-lo, o que é diferente, e é questão). Ah, pois, faltava isso. E percebe-se melhor o “estuporado”, não? Pois, é que há uns pulhas impenitentes a sobreviver ao desalmado calendário da previsão, que apenas por acasos da fortuna não permaneceram sempre guardados na caixa dos segredos de umas quantas almas, e que mesmo na insuportável e descarada lei do menor esforço, para os suados proletários de um verso, porra, um só, que comova sacos lacrimais alheios, num espreguiçar melódico, numa frase repetida como imperceptível ostinato a somar-se aos ainda ignotos dias que virão, na limpidez que a poeira da mal-tratada faringe e o tartamudear da vizinhança com o mezcal paradoxalmente imprimem ao vibrato, e no timbre de cetim puído dos corpos e copos que sorveu sem nódoa volvidos tacto e textura, enleiam o espaço de uma divisão e a congregam para cingir o corpo do acalento ao amargor que se recorda das noites feridas no exterior. Não é daí que vem em primeira instância o lucky dog, mas não é nada inverosímil.Este disco não se quer defendido.
Este disco é alheio a méritos, deméritos, elogios e detractores. Este disco boceja indiferente na cara de correntes, classificações, híbridos compósitos de lhe achar um lugar para o descartar do mundo e arrumar na prateleira. Este disco não se quer dissecado faixa a faixa, ó aquela é Tindersticks em desencabrestamento a armar ao pingarelho em apagados dedilhares de sax e guitarra, se a frase que o antecipou não nos estivesse ainda a marcar a pulsação; ó e aquela é aquela soul branca low-fi com excrescência de intermezzo, a não assumir e subsumir a elipse na repetição incansável em desenvoltura hínica sotto voce nos metais, que nos acolha ao sonho a preto e branco; ó ó e aquele truque da hesitação no retomar do harpejo de piano como filho pródigo tresmalhado que retoma a medo memorial e dedos vacilantes as teclas do piano da infância sepultado no pó dos sotãos nevermind o facto de ser das declinações mais simples e estupidamente (porque simples) belas da debilidade humana que há muito se não imprimiam num rodela de música; eh pá, e não é que continua a ornar os murmúrios com farripas de piano, e o desamparo devém sempre renovado... Oh santa paciência, que ele não quer ofício! Este disco está-se impudicamente a borrifar, não se quer avaliado, não se quer dito, não se quer falado. Apenas quer-se.Não sei se me faço entender. Mas também, logicamente, nos termos da estrita partilha epidérmica deste entendimento, I just don’t care.»
5 comentários:
Hummm... Quando é que aprendes a passar músicas neste estabelecimento? Seria muito bom, muito bom...
Quando aprenderes, me pedires a password, e fizeres o serviço por mim. Não é pedir muito.
Tá boa, de hoje em diante, os ilustres leitores deste blog jamais saberão quem anda por aqui a fazer as despesas da posta. Ok, eu sei, eu jamais escreveria coisas como «carimbar trajectos com o selo redutor de um sentido sobrepujante» ou conseguiria fazer tantos parentesis (eu tento!). Mas, claro, há aí uns bons pares de posts que não me importava de ter sido eu a escrever...
Só te queria impingir a banda-sonora, não a postada toda, mas se estás disposta, equívocos autorísticos já têm preparado o terreno por estas bandas (nem a despropósito: «and I'm wondering who could by writting this song»), pelo que o pedaço é teu quaneo o queiras. Claro que seria escusado afocinhar-me na trampa que posto para demonstrar cabalmente que isto não se faz... «carimbar trajectos com o selo redutor de um sentido sobrepujante»... ó Santa Aquerupita...
Quanto à lisonja para apaziguar o ego dorido, nem eu sou tão ortodoxo para me negar um ou dois posts decentes: concordo, a ass-print saiu bastante jeitosa.
Ah, e costumam aparecer no link ali ao lado (myspace phono) uns ficheiros com músicas de alguns dos álbuns que lá vão aparecendo.
Infelizmente o Staples já marchou. Lá terás novamente que arranjar o álbum por outras vias, porventura vir apanhá-lo neste hemisfério...
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