sábado, 19 de dezembro de 2015

Nuclear si ¡Por supuesto! Nuclear si ¿Como no?


Por falar em great opening lines. Que paroxístico bálsamo para o estiolar da vida deparar com coisas destas quando nos enfiamos no cinema à toa só para não regressar a casa em hora de ponta. Quer dizer, musicalmente (que, por uma vez, é o que menos me interessa) isto soa bastante menos curioso aqui do que ouvido no "El Futuro", por alguma razão; talvez fosse outra versão; talvez um efeito de contexto (não que lá soasse excepcional ou coisa que o valha, mas sempre indiciava a bondade da ocorrência do pós-punk como molde musical no seu tempo, que, a não ter existido, teria de ser (re)inventado, o que, como sabemos, dá sempre merda). De qualquer forma, logo com aquele intróito, a letra, essa sim (que faria bem melhor figura nuns walking dead do que aquelas xaropadas indie  que ora por vez lá apanho a insuflar de pathos de pechisbeque uma série, ironicamente, tão cheia de si), apela imediatamente ao pequeno niilista que, check, continuo a albergar sob a bonomia do meu exterior bolachudo, aguardando tenazmente a sua deixa para me irromper peito afora.
As devidas gracias, pois, ao Luis López Carrasco, seja ele quem for, pela selecção, a trazer ao de cima o pior de mim, e já agora pelo objecto fílmico que a compreende. Não serei a pessoa do mundo com mais pachorra para filmes conceptuais (não que também ande com particular disposição para o comum da geringonça (peço desculpa, voltei a jantar ao som de telejornais) narrativa; não sei bem o que passa comigo), e sua tendência para servir pescadinhas auto-referenciais de rabo-na-boca em becos sem saída (cuidado, não pisem no pleonasmo metafórico), mas por isso mesmo é sempre uma surpresa muito agradável deparar com um dispositivo cinematográfico capaz de se abrir à vida, e isso na exacta medida em que exerce materialmente a consciência de que ela seja, em última análise, inapreensível; traço evanescente suspenso do fim da história, coisa para mais sem qualquer pedigree apocalíptico de pronunciamentos bíblicos; apenas a banalidade quotidiana do que incessantemente some em trânsito, como nunca tendo existido, entre cada ocaso e aurora (deprimido, eu, será? nahhh).

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Estava aqui para me suicidar, mas nem eu tenho problemas destes

«Voyage to England projected. No money; must get it. Have to be operated first: circumcision. It is of no advantage to go to foreign countries with such an evil not remedied.»

Fernando Pessoa, Escritos autobiográficos

sábado, 1 de agosto de 2015

superbocksuperquê?


Bem mais episódico que uma lua azul, e acrescido dos limites da esperança de vida humana, o excelente Michael Mantler, com as suas inconfundíveis toadas em tom menor (que conseguem a misteriosa proeza de manter o meu interesse por meio século de pessimismo harmónico em circuito fechado), is in town, a revisitar (ênfase no prefixo) uma das suas maiores obras, para quem esteja disposto a conceder que um pouco de estrutura de quando em quando não atrofia necessariamente o jazz (sem nada contra o soltar free da franga), como o hexâmetro não sendo propriamente o estrangular da poesia.
Como (e apenas porque) já tenho o meu bilhete, também podeis vir; eu deixo.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

sexta-feira, 17 de julho de 2015

We have no more beginnings: Realpolitik

Sei desde há pouco tempo que um inimigo só deve odiar-se na medida em que poderá de novo ser nosso amigo, e, quanto a quem é amigo, quero servi-lo e ajudá-lo, pensando que ele não se manterá assim para sempre.

Ájax, Sófocles (trad. Maria Helena da Rocha Pereira)

Toujours la tyrannie a d'heureuses prémices


sábado, 13 de junho de 2015

We have no more beginnings: Grexit

«Quando por vezes me escaparam algumas destas expressões e também quando, com a fúria, me vinham lágrimas aos olhos, logo apareciam os sábios senhores que entre vós, alemães, tanto gostam de se fazer ouvir, os desgraçados para quem o sofrimento de uma alma não é senão pretexto para sentenças e, fazendo-se passar por bons, diziam-me condescendentemente: não te lamentes, age!»

Hipérion ou o eremita da Grécia, Hölderlin (trad. Maria Teresa Dias Furtado)

quarta-feira, 22 de abril de 2015

quinta-feira, 9 de abril de 2015

We have no more beginnings: Trophy wife

"A ti não te está destinado, ó Menelau, vindo de Zeus,
morrer em Argos criadora de cavalos, nem encontrar o teu fim.
Mas os imortais te mandarão para a Planura Elísia,
no extremo da terra, onde está o louro Radamanto.
Aí se oferece aos homens uma vida mais fácil.
Não neva, não há grande invernia, nem chuva.
Mas as brisas do Zéfiro sopram sempre ligeiras,
vindas do Oceano, para refrescar os homens.
Isto porque possuis Helena, e para eles és genro de Zeus."

Odisseia, Homero (trad. Maria Helena da Rocha Pereira)

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Double bill



Ninguém acrescentará ou diminuirá a minha força ou a minha fraqueza. Um autor está entregue a si mesmo, corre os seus (e apenas os seus) riscos. O fim da aventura criadora é sempre a derrota irrevogável, secreta. Mas é forçoso criar. Para morrer nisso e disso. Os outros podem acompanhar com atenção a nossa morte. Obrigado por acompanharem a minha morte.

sábado, 7 de março de 2015

Copycat



We have no more beginnings: Happy end

Este prazer não é próprio da tragédia, mas sim, essencialmente, da comédia: aqui, os que na história tradicional são ferozes inimigos, como Orestes e Egisto, saem, no fim, amigos, e ninguém mata ninguém.

Poética, Aristóteles (trad. Ana Maria Valente)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

We have no more beginnings: Buster galore


 
 
 










  

 

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Quando pensava que o meu contentamento com o presente director da Cinemateca não podia ser maior

«trata-se da já célebre "história dos preservativos" que Jack Arnold várias vezes teve o prazer de narrar. Perante a impossibilidade de conseguir por simples ampliação o efeito das monstruosas gotas de água (que caem sobre Scott Carey quanto este está, na cave, reduzido ao tamanho de insecto), Arnold lançou mão de um insólito mas perfeitíssimo recurso: nada mais nada menos do que preservativos cheios de água que, ao caírem, depois de ampliados, davam a exacta imagem de gotas gigantes que, no fim, rebentavam em redor do actor. E quando, no fim da rodagem, o gabinete de produção notou que uma das parcelas do orçamento dizia respeito à compra de 1 500 dos "ditos cujos", Arnold achou mais convincente retorquir: "É que a rodagem foi de tal modo extenuante que, uma vez terminada, resolvemos todos fazer uma festa especial..."»

Folha de sala de The Incredible Shrinking Man