domingo, 12 de outubro de 2025

We have no more beginnings: Walk of 'shame'

Esta Erbaria é um local situado junto a um cais do Grand Canal contíguo à ponte do Rialto, e chama-se assim porque é o mercado onde se vendem hortaliças, fruta e flores. Os homens e as mulheres galantes que passaram a noite nos prazeres da mesa ou nos furores do jogo têm o hábito de ir aí fazer um pequeno passeio antes de se irem deitar. Tais passeios mostram que uma nação pode facilmente mudar de carácter. Os venezianos de outros tempos, misteriosos na política e na galanteria, são apagados pelos modernos, cujo gosto predominante é o de já não se fazer mistério de coisa nenhuma. Esse lugar oferece uma bela perspectiva, mas isso não passa de pretexto. Vai-se à Erbaria mais para se ser visto do que para ver, e as mulheres gostam mais dela do que os homens; querem que o mundo saiba que elas se não constrangem; a galanteria está aí excluída por força do estado de deterioração dos adornos. Nessa altura começa o dia, mas ninguém parece reconhecer que assim é: é o fim do dia precedente; cada homem, cada mulher, deve ver no outro as marcas da desordem: os homens devem alardear o tédio de uma complacência demasiado gasta, e as mulheres devem exibir os restos de uma velha toilette que não foi respeitada. Toda a gente deve ter um ar cansado e mostrar a necessidade de ir meter-se na cama.

Giacomo Casanova, História da Minha Fuga das Prisões de Veneza (trad. José Miranda Justo)

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