sábado, 14 de novembro de 2009
sábado, 12 de setembro de 2009
Pax
Não que com a exponenciação dos mecanismos de citação cinéfila as odds não comecem antes a reverter para conseguir encontrar dois filmes desirmanados por qualquer citação (a new Kevin Bacon test looms on the horizon...), mas, for the moment, what are the odds de ter apanhado e visto pela primeira vez o Donovan's Reef e A Cara Que Mereces no mesmo dia (por sinal, fita eminentemente mais loveable (a ponto de não conseguir senão desembaraçar-se calorosamente do formalismo da situatio narrativa, como aquelas merdas que os shuttles vão deixando para trás) do que há quem diga (que fazer?, sou por definição um nostálgico sentimental), mesmo com a primeira parte a fazer papel de pau de cabeleira. E, pelos céus, já que nas lides derrière é a malapata que se sabe, nas décadas de intervalo alguém aproveite para me ir pondo o Manuel Mozos à frente da câmara mais vezes (o que há, aliás, Tarantino confirma a regra, nessa coisa de os realizadores serem tão apetecíveis frente às câmaras? Francamente, trocava quase toda a carreira do Pollack por vê-lo a despachar mais uma pêga no Eyes Wide Shut). E como estamos nisto, devo dizer que sou absolutamente contra andarem a pôr o Airosa a explorar novos registos. Vi-o a primeira vez no Torquato Tasso pelo Silva Melo e não me calei a elogiá-lo àquela velhota que foi a única da assistência que à saída não tinha pedalada para evadir-se à minha cadência opinativa (é certo que as macacadas do Miguel Borges na época (para quem a arte da cenografia consistia em dotar qualquer adereço teatral da capacidade de trapézio), passíveis de transformar qualquer encenação de Goethe num episódio do Criss Angel (vi tanta televisão este Verão. Precisava de resolver a minha vida para poder enfim tentar ser menos desesperadamente infeliz, e quase só vi televisão. Ninguém me pode odiar mais que eu neste momento, e não imaginam as reservas insuspeitas desse sentimento que eu seria capaz de bombear de vós, gente abestalhada. Vi duas temporadas do Dexter ao mesmo tempo, com a terceira a estragar-me todas as surpresas da segunda, e eu impávido. Vi a encenação do Siegfried gravada no São Carlos (all four hours of it), com germanos vestidos de hooligans a falar com passarinhos dependurados de uma vara movida por uma badass chick (ah, sim, a desconstrução, murmurei, impávido) e valquírias com pinta de knackwurst embrulhada em lingerie a receber um extra por baixo do camarote ao fazerem em palco o teste industrial dos limites de elasticidade dos modelos da Victoria's Secret e que só saíam out of character (ah, pois, a desconstrução da desconstrução, cogitei, involuntariamente, impávido) pela ausência de um fiozinho de sauerkraut infiltrado no canto da boca; e o analista que não tenho sabe que não me submiti às all four hours of it pelo meu amor pelas intentonas cromáticas à hegemonia tonal, embora a minha enciclopédia de música contemporânea saiba o quanto gosto das intentonas cromáticas à hegemonia tonal. Ah, e o Cops, oh estupefacção degenerada, o Cops, como é que me tinha escapado e como é possível esse pináculo insidioso da exploitation de qualquer género em qualquer formato. E só não vi o seu spin-off Jail, porque andam (juro) a promovê-lo como o desenvolvimento natural do cinéma verité (coisa hilariante para designar, a tomar pelo modelo, um produto visual cujas condições de verdade são precisamente o que deliberadamente se mantém fora de campo, o que a torna mais tv aldrabée que a ficção mais artificiosa; mas que, enfim, até dá para o cinéma vérité que se intitulou cinéma vérité aprender no que é que dá intitular-se cinéma vérité) e eu não gosto que cauções intelectuais (não há nada mais abjecto do que pretender traficar elevação junto com o contrabando vaginal em dia de visitas) interfiram na minha fruição de exercícios panópticos propedêuticos sobre massa crocante de estereótipos sociais (só o genérico, com uma música, reggae, intitulada Bad Boys, e os seus disclaimers de innocent until proven guilty in a court of law, devem ocupar a totalidade da cadeira de Dimwit Semiotics na UCLA). Não, a sério, estou a um conseguir ver um Tyra Banks Show para definitivamente arietar lá o cátodo com o crânio e acabar, em idiotia poética, de vez com isto. Enfim, pronto, e um dia cruzei-me brevemente (juro, não vi até ao fim) com um tal Criss Angel Mindfreak (juro, aquelas merdas da Sick* Radical), mas não quero falar disso), eram capazes de fazer sobressair qualquer contra-intérprete (há uma palavra para isto, não há?... socorro...) como modelo de sobriedade, mas tanto?), e portanto deve continuar a ocupar-se de variações em torno desse carácter. A versatilidade é lamentavelmente sobrestimada, com a presunção da unidimensionalidade da empatia emocional dos espectadores, passível de ser capturada pela transfiguração de um bom actor em qualquer personagem. O espectador não é completamente imbecil, consegue funcionar em vários planos, e o que vê, e amiúde quer ver, são actores (um plano) a desempenhar personagens (outro plano), e é da congruência de ambas as dimensões (e não da anulação extraordinária de uma pela outra) e, reconheçamos, do seu afunilamento diacrónico, que a empatia (mesmo para a repulsa) e adopção figurativa se geram, e tal, não sendo tudo, é a big deal (John-Wayne-like, por supuesto). Portanto, não forcem o moço, até porque é uma raridade alguém ter jeito para esse paradoxo que é projectar uma figura ensimesmada. É certo que a figuração pública desse paradoxo pode ter a consequência não pretendida de fortalecer iconicamente a auto-modelação de uma geração como overunderachievers mas, não me twittem, isto ainda é a blogosfera, onde, qual Litmus Test, se assiste à cena final do Vive l'Amour e o que se articula espontaneamente após é um "I can top that", pelo que creio podermos acordar que aquele é já um problema fatalmente datado. Dito isto, e quanto ao que daí decorre, alguém vos ajude, que eu continuo ocupado)?
P.S. - Mozos, não se esqueçam. I miss Harry.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Estou constipado
Não é a saudade, é a ausência; não é a borbulha, é a crisálida da pústula; não é o silêncio, é a linha que cerze os lábios; não é o fígado arredio, é esfumar-se a miragem do éter; não é o horário, é o que se esqueceu sem tempo de voltar atrás; não é o que conta na privação do ar, é o olvido e a apatia nas melodias que restam; não é o adeus, é o olá ser indiferente; não é a asma, é o sufoco na erva de São Domingo; não é o mainstream, é a vacuidade; não é a vertigem, é sequestrar a horizontalidade derradeira do repouso; não é a dependência química, é a dependência do fornecedor; não é a restrição, é a maleabilidade da incerteza do jugo; não é a extra-sístole, é partir comprimidos nas tardes de domingo; não é a sentença, é o calendário em branco e sem escolha de garrote; não é a menopausa, é a terapia de substituição; não é a carência, é a insuficiência; não é o fim irredimível, é a capitulação ao espectro.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Da rasura
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Let's hear it for a tasteful beheaded demi moore
Dizia-me o camarada do outro lado da mesa que só lhe faltava um disco dos Tindersticks, "o da mama". Reparei: mama não; o desnudo torso secreto de mulher grávida (e, logo, como obliterar a promessa reclinada na prega da pélvis?), a fazer mais pela vida sexual das fêmeas prenhas do mundo do que hordas de sexólogos de bigodes eriçados (já repararam?) a desiludir os varões seguros de que a sua metonimização métrica só pode trespassar tudo o que se lhes intrometa à frente, ou de que uma grávida seja redutível extemporaneamente a uma condição de periclitante parturiente sempre prestes a expelir (foram, aliás, todas estas as minhas palavras exactas no exacto momento).
No entanto, reducionismo por reducionismo, entre o fetiche das grávidas (cf. Patrick em Coupling - não sou eu que penso nestas coisas, se faz favor (só as fixo)), e o automatismo libido-mental ilustrado pelo meu co-assentado de truncar aquela imagem de sensualidade chiaroscura exclusivamente ao 1/4 superior que oferece a mama, parece que, para alívio e prevenção das moçoilas folgazonas hesitantes em se devotarem à curtição da maternidade, se pode avançar não só com a hipótese (em trejeito darwinista mas com o toque de reflexividade para acautelar a deriva chapada, essa sim lesiva (oh theology, schmeology), para a acefalia do sociologismo etológico) de que o macho (heterossexual?) will always find a way, mas também que o melhor mesmo é ficar fora do caminho desses twisted freaks.
Bom, considerando que isto acabou por deslizar (sou tão sugestionável) para uma imprevista (juro) evocação darwiniana (cuja casualidade combinou tão bem com a perspectivação plástica da sua causalidade), e como é bem sabido que não foi dos menores legados do velho Charles ter inspirado um excelente disco dos Banco del Mutuo Soccorso, deixo-vos com um espectro de nostalgia invocado por esta cançoneta tão batida que todos nós tanto entoámos em coro angelical nos recreios da nossa infância enquanto imprimíamos para as gerações futuras um decalque fóssil das vestigial tails dos nossos cóccixs sentando-nos na cabeça de coleguinhas caixa-d'óculos.
With a whimper
Dá para soerguer vagamente o sobrolho constatar que no acumular de semanas ou meses de fuga para a vida lá fora, como se fosse neste esconso abrigo socio-nuclear que afinal a ressonância atómica desta projecção de corpos pensantes fosse mais sensível às mínimas oscilações retóricas de existência, não venho amealhando nenhum rant para ressarcir um compromisso não escrito, pedido ou desejado, da distância que quem quer saber se lhe impôs. O que não quer dizer, infelizmente, que tenha sido tempo perdido. Será talvez, entre outras mundivisões modernas, até uma das contradições intestinas da contabilidade materialista do tempo. Ao mesmo tempo que moralizamos os minutos sem emprego pragmático como perda de tempo, a verdade contabilística é que o seu valor se inscreve numa nota metafísica de dívida. Em instância alguma o tempo se perde. Acumula-se, doseia-se, rentabiliza-se, mas é a sua promessa intrínseca de se conceder para uma finalidade, que nem seja resignado vê-lo passar, que, ao invés, pode perder alguém. Todo o tempo por empregar em desígnios nomeáveis se atarda aos pés e se enrodilha no corpo, agiganta e pede meças ao descaramento dos gestos improdutivos, articulados numa inexistência funcionalmente categorizada. Terrível projecção holográfica de actos não-tentados, esse tempo escoado irradia cada vez mais ofuscante o rosto e descarna os ossos dos seus envoltos para sopesar a falência; horas e dias, semanas e meses, a anafá-la, moldá-la à sua rotunda atracção ergonómica pelo solo, assim a verticalidade em que se projectam os seus blocos de concretitude incumprida se vai avolumando, numa rigorosa metodologia comparativa, ao lado da expansão disforme da inércia. Até decretar metodicamente que a densificação morfológica da estagnação tem um limite para a acreditação da esperança de ainda alcançar as promessas adiadas da sua sombra de possibilidades oh tão altiva e erecta, coisa cruel a promessa de um Homem.
Nope, já não há rants que façam render a durée da noite, e na sua dilatação já insensível aos ciclos intervalados da rotação, as suas luzes episódicas são mero contraste para relançar interminavelmente o breu. Há assim um momento no tempo, em que o tempo tanto se arribou, que conceber dar realmente mais um passo e re-diferenciar funcionalmente esta gosma de retracção existencial, novamente dotada de membros articulados e polegares oponíveis, implica conceder por perdidos todos os dias que nos contemplam prometidos do sorvedouro de passados que há tanto nos centrifuga num remoinho eviscerante. E assim, concede-se. Abre-se falência dos activos temporais e seus épicos em moratórias abortadas. Mas a nós, senhores, a nós quem nacionaliza?
Da orfandade
(se não se importam, agradecia que cessassem as especulações injuriosas, que assim declaro abertas, versando as minhas motivações para introduzir dispositivos fotográficos nos lavabos da Cinemateca. Haja respeito)