sexta-feira, 7 de março de 2008

E vão bardamerda os senhores da Spark ao serviço da EMEL que me multam logo que passam 5 (ou 10) (ou 15) minutos do tempo do parquímetro

É já fastidioso acompanhar a blogosfera quando descamba nas suas derivas histéricas em resposta à quase sempre explosiva associação da pobreza socio-semântica do meio com a tentativa de o dignificar discursivamente, explorando nos meandros da sua formatação algo mais que a auto-transparente delicodoçura com declaração de interesses apensa e enfeitada de smilies para cintilar no manto do céu epistolar a estrela pindérica das nossas inquestionáveis boas intenções (quase tão fastidioso como a fixação, não menos rígida, de cartilhas de dissensão discursiva ao suposto politicamente correcto).
É por isso de ressalvar sempre uma iniciativa capaz de louvar a produção de discurso enquanto petardo cultural de desarranjo das várias grelhas de objectificação das "evidências" do real, em particular das suas encarnações sociais em torno de grupos ou categorias classificatórias (trata-se, portanto, de algo mais complexo que o politicamente correcto e incorrecto dos provocadores de plantão).
Não é nada menos que isso que diviso numa das recentes (enfim, trabalho em temporalidades proto-geológicas, é sabido) edições do catálogo de ecletismo sonoro, sempre a testar os limites da sua agregação nuclear, que passa pelo (eter): a lenda punk do Pinhal Novo, os Comme Restus. É que, para além da valorização de um formato inclinado, por excelência, para a ruptura com os consensos sociais de discursividade assisada (e muito mais com os consensos, que com os objectos dos consensos (o que os torna discursivamente muito mais à frente)), e mesmo desconsiderando o mérito musical da amostra em questão (o momento free-jazz, com o Ayler em guest-starring (grande e secreto furo internacional), de «Eu xamome Ãtónio», sendo a instância mais eloquente desse facto), aquilo que torna esta divulgação um acto blogosférico exemplar é o facto de, não fôra o divulgador ter a louvável capacidade de distinção entre os objectos de um discurso e os efeitos simbólicos desse discurso (ou seja, ser capaz de operar ao nível do meta-discurso punk), o mesmo teria todas as razões para repudiar a produção desta pandilha como incorporando a incitação ao ódio de uma minoria social à qual ele pertence (como saberá quem tenha acompanhado as digressões sónicas e velocipédicas do cj), na superficialmente infame «Morte aos ciquelistas» (veja-se como, logo pela escolha do objecto de ódio, se descontrói, por efeito de diversificação subjectiva, a tão deprimente e soporífera, de paupérrima, cartilha de desprezo social naturalista que vai mexendo letargicamente, também, a blogosfera (paneleiro pra cá, preto pra lá, e um cigano (não se arranjou nada mais aqui?), ou um judoca (that's not gonna work...) ao longe, if we're bored or Arroja's in town), assim demolindo o menu sensaborão que a história nos legou, a facilidade pavloviana de sinalização do ódio pela veia essencialista, a carga dramática que apenas três ou quatro válvulas de escape social inevitavelmente concentram na nossa arrevesada canalização de maus instintos, e os vícios e iniquidades retóricas de base de serem sempre e apenas os mesmos a serem objecto à vez da sobre-protecção e da contestação do politicamente correcto pelos discursos situados de quem não tem his ass on the line nesse enjeu, assim capacitando-nos para irmanadamente nos reconhecermos pluralmente odientos e odiados e daí retirar as devidas consequências).
É, portanto, por esse exemplo de auto-retracção identitária ao pouco construtivo automatismo de ler um discurso questionante das estruturas semânticas com a mesma grelha automática com que se (não) encaixa um ataque socio-pessoal, que não posso deixar de me associar a esta iniciativa exemplar. E não pensem que o faço gratuitamente, com a descontracção de quem não está implicado na parada. Precisamente, declino exemplarmente o exemplo, sabendo bem que já visado na quinta faixa me encontro eu.

(devo ressalvar que, desta feita, numa provocação muito improfícua, apenas frustrante (como já terá percebido quem seguiu o link prévio e, inevitavelmente, precipitou atabalhoadamente o cursor para o botão "comprar"), ao contrário do anunciado, a obra dos Comme Restus não se encontra disponível no link providenciado. A editora Sandes de Choco (sic, e muito bem) não quererá a considerar uma reedição em digipack de luxo? - já se justificava, caramba. Quanto mais não seja, falos daqueles já escasseiam na montra pedagógica da nossa arte urbana: há que revivificar a sexual awareness da juventude portuguesa - com a propedêutica serôdia dos Morangos com Açúcar, a tornar a crica e o cacete manípulos para realizar TPC's, o presidente da república vai ter muito mais anos para demandar como fazer os portugueses ter mais filhos*)
.
*informam-me que nos Morangos já se fode. Lamento, mas não abdico. Esta line deu-me trabalho, suei por ela, e não a descartarei como um reservatório de amor desperdiçado. Sue me. Esse é, aliás, o processo por difamação pelo qual gostaria de ser levado à barra do tribunal.