Da incoerência virtuosa dos idos
Embora (porque) na plena indiferença democrática nunca tenha simpatizado com nenhuma das tribos urbanas a palmilhar calçadas nos idos de 1980's, não deixei de debicar do que dependuravam das aparelhagens (nem todos têm os seguidores que merecem...). Lutando contra o descrédito que lhes pesa do discipulado gótico que os idolatrou, portanto, continuo hoje a achar que os Sisters of Mercy (sim, abrenúncio) fizeram dois álbuns e uma mão cheia de EP's bestiais, e ainda me recuso a arrumá-los na gaveta dos guilty pleasures (embora tenham estado na gaveta dos old time pleasures, o que é muito diferente - quando os de lá tirar, se for caso, logo volto a dar notícias).
Contudo, recentemente tropecei num achado arqueológico da maior importância para amparar a tese da boa verve que animava as irmãzinhas à época (para além da recorrente derivação coheneana da própria nomenclatura e outros títulos - e.g. "Some Girls Wander By Mistake"): descobri uma inacreditável de deliciosa cover pelas piedosas, do "Gimme Gimme Gimme" dos Abba. Aqui vos juro que no meu disco rígido, para alívio possível das horas de desanuviamento em que me posso conceder maus fígados, whenever I like it, posso pôr o soturno Eldritch dos perenes óculos escuros a trautear «Gimme gimme gimme a man after midnight».
Não deixa de ser revelador da mais que disponibilidade, mas diligência, absolutizante de massas, que tantas agremiações difusas tanto se empenhem na farpela de um modo de vida total, ao arrepio da iconoclastia dos próprios presumíveis chefes-de-fila (presumivelmente, quando ainda, ou já, se podiam dar ao luxo). Ou de até que ponto a sagração/invenção moderna da individualidade não foi demasiado confiantemente (voluntariosamente) tomada por um dado aquirido de processualidades sociais de (auto-)identificação bem mais retorcidas. (senhores...)
(Sendo que ceci n'etait vraiment pas un post sur le livre de style de la nouvelle droite idéologique portugaise )