sexta-feira, 5 de maio de 2006

E Continua!... (este post não interessa, é auto-indulgência e à conta de outrém, não há nada para ver, circulem à volta do destroço - eu, claro)

Eu juro, mas juro, que não me ando a armar em bom ou ao pingarelho, mas LMO continua a lançar posts com temáticas que tenho guardadinhas nos meus drafts. Está visto que não posso armazenar para o Inverno, por isso ou declaro falência e encerro o estaminé, ou assumo-me como irremediável subproduto intelectual a esgravatar o dito complementar.
Por enquanto (por enquanto), parece que será a segunda (até combina com a persona - não o...)...
Vinha isto a propósito da risota a despropósito que se apanha hoje em dia nas salas de cinema comercial em qualquer película. Mon cas (não o...) (sim, agora sim, estou a armar ao pingarelho, mas também sem um baixo patamar de auto-censura não escrevia porra nenhuma), no entanto, era na própria Cinemateca, agudizando possivelmente a hipótese explicativa de «o riso surge como um sinal (para os outros espectadores) de que se está a perceber "a coisa"»: já o tinha verificado, mas numa sessão em particular, Accatone na tela, ao meu lado um grupo de jovens (arriscando o estereótipo: estudantes de cinema) não cessava de cacarejar esforçadamente a cada aberta concebivelmente gracejante no contexto de drama neo-realista fatalista e já une quelqu'autre chose. E nessa situação específica, pareceu-me que o sentido da risada voluntariosa passava pela modalidade de pretender assanhadamente manifestar a presumível capacidade de recuperação da actualidade do gesto fílmico, só que (aí a incongruência) pelos códigos hodiernos da sua recepção. O anacronismo continua a fazer vítimas: assumir humildemente a estranheza, e partir dela, sempre foi mais produtivo. Lookin' on the bright side, sempre sublinham o valor do patético enquanto modalidade assumida de existência, não como consequência imprevista do voluntarioso exibicionismo de (in)seguranças ontológicas (o que é o geriátrico de gabardine marron e canelas estranhamente descoloradas ao pé disso?...).

Adenda "And THAT'S how you self-deprecate": are you talkin' to me? (definitivamente não o...). É que essa estratégia de simultaneamente provocar e minar a minha temível espada de Dâmocles através da sobrecarga sucessiva e inapelável de estímulos auto-depreciativos à minha autodepreciativa soberba (constitutiva da plenitude ontológica da dita) de regular os termos da boa auto-depreciação (inclusive autodepreciando-me à conta das tentativas alheias), já que nem eu posso ir a todas, é altamente perversa e (hélas) funcional. Não me parece bem.
De qualquer forma, para não sair de mãos a abanar, quanto ao «estou habituado a falar para o boneco», acho que estamos, por definição, conversados (the dummy wins, gniah ah ah).

(eu juro que vou tentar não reincidir...)

(e alertar para o Mamoulian no próprio dia em que passa, na sala que não temos receio de estar esgotada, não vale - aproveitar isso para auto-depreciação seria obviamente desonesto e valeria penosa sanção da corporação, a havê-la (if only...))

(oops)

(sim, ou não, de facto, não tenho mais nada que fazer)

4 comentários:

Anónimo disse...

Só por acaso sou estudante de cinema, já assisti a tais manifestações e não acho justo restringir o acto à espécie, embora por vezes isso aconteça. Mas é mais sintomático de patetas que apenas de estudantes da sétima arte (entenda-se: alguns são patetas).
Primeiro porque habitualmente não andam em grupo, mas sim sozinhos (por vezes acompanhados pelo amigo imaginário). E mais, atrevia-me a dizer que os estudantes de cinema são os espectadores menos assíduos das sessões da cinemateca mas não estou aqui para defender ninguém.
Ou seja, se eram efectivamente galináceos de cinema, ainda assim não são os únicos a pontuar as projecções com cacarejos. Já lá vi sapos, alguns corvos, muitos mamutes e os seus ruídos eram igualmente descabidos relativamente à cena/linha de diálogo/acção que decorria na tela.

Anónimo disse...

Minha cara Joana, tem toda a razão em considerar não ser justo restringir o acto da risota a despropósito à "espécie" "estudante de cinema", acrescente-se, na cinemateca. Porque a hipótese de aquele riso ser emanado de estudantes de cinema, primeiro, era só uma hipótese (não há semiótica social que me permita afiançar que o eram), e segundo, tem como condição operativa o serem patetas. Na eventualidade de ter passado a ideia de as duas condições serem mutuamente constitutivas, fique claro que não é de todo a minha ideia (e nunca seria mesmo que todos os estudantes de cinema que conhecesse na vida fossem patetas) que os estudantes de cinema sejam por uma qualquer inescrutável inerência patetas. A hipótese era apenas que aqueles espectadores que gramei na risota naquele dia fossem estudantes de cinema E patetas, e nessa dupla condição tivessem manifestações de riso suscitadas pelo raisonnement social que mencionei (porque implica a tentativa de ratificação simbólica de um certo "saber" de descodificação cinematográfica associado à sua "condição" de estudante de cinema - sendo que essa tentativa pode também, e é sem dúvida, ser perpetrada por qualquer would-be intelectual, este seu servo incluído, a exibir a sua presumível cultura cinéfila, é certo). É pouco e frágil, mas é tudo. Certamente que a polvorosa de risadas inanes de sala de cinema não poderiam ser todas associadas a uma espécie, nem o pressuposto naturalistas de associar uma espécie ao acto seria epistemicamente sustentável. Longe de mim.
Mas já agora, precisamente nesse espírito, também não creio necessário apelar a outras categorizações directamente penalizadoras dos prevaricadores da nossa tranquilidade de espectadores, e sugerir a inerência de uma condição lunática que os faça andar com os seus "amigos imaginários". Há gente muito sã, a agir com perfeita racionalidade de forma (para nós) cretina em salas de cinema. Pelo que deixemos a malta de amigos imaginários também em paz. It's only fair.

Anónimo disse...

1. Não, o riso descabido é que é dos patetas. Alguns estudantes de cinema são patetas, nem todos. Há patetas muito simpáticos. Eu própria me sinto algumas vezes um tanto ou quanto pateta. Mas não é inerente à condição estudante de cinema. E depois, já que falamos de cinema, há ainda aquela frase de um filme francês “És uma pateta muito querida.” (Ponette) Ou seja, ser pateta não é necessariamente mau.

2. Pois para mim é uma pena que alguns estudantes de cinema e não só, abandonem o deleite de ser espectadores e passem a ser possuir uma postura analítica apenas porque ou são diariamente bombardeados com todo o manancial de teorias acerca da origem e destino da arte cinematográfica ou têm a vã esperança atingir um falso estatuto intelectual. (Eu não lhes chamo Would-be, mas Wanna-be. Na minha opinião nem vale a pena o esforço: a sala está às escuras e decerto ninguém pagou bilhete para olhar para o colega do lado. Se for na cinemateca então é pior, porque o filme só é projectado uma ou duas vezes. Há que aproveitar o filme.)

3.Acho perfeitamente são e nada penalizador o facto de um estudante de cinema ter um amigo imaginário. Sempre o ajudará a escrever diálogos com alguma naturalidade. E por outro lado, já viu o mundo onde nós vivemos? Não está fácil, principalmente para um aluno de cinema em Portugal (mas isso é uma longa história). E apesar de tudo um pouco de fantasia nunca fez mal a ninguém. Só estava a tentar sugerir que talvez não fossem estudantes de cinema porque é raro vê-los aos grupos. E depois o conceito de “amigo imaginário” também é ambíguo. Ou seja: No fundo nem quero penalizar ou apontar o dedo a ninguém. Não tenho feitio para isso. Os patetas, cretinos e afins fazem parte deste mundo, os estudantes de cinema também, e mais os risos descabidos dos incógnitos…Senão em quem é que os argumentistas se baseavam para criar personagens principais, mentores, objectos de desejo, objectos de repulsa, antagonistas e afins?

Anónimo disse...

Ora pois (se não tresli), estamos de acordo.
Ponette... por acaso, je me souviens.