terça-feira, 3 de outubro de 2006

Semiologia à queima-roupa 5

Pouco tempo após ter passado tirado a carta de condução, comecei também eu a sucumbir à vetusta profecia social de insultar, invectivar, admoestar todos os outros sujeitos que descaradamente se interpõem entre o eu motorizado e o pavimento. Mas, desta feita, em meu abono, e a despeito do manifesto primarismo que tanto busco afogar sob torrentes de advérbios, tal facto não pode ser atribuído à também vetusta (e muito mofenta) causalidade de deixar sobressair uns quaisquer instintos bélicos da minha presumível "natureza humana" em situação de tensão. Não, se injurio os meus correlegionários automobilizados pela sua reprovável condução é tão somente porque não consigo resistir à ironia.

65 comentários:

eduardo b. disse...

os últimos quartetos de cordas do gajo dão vontade de cortar os pulsos.

Julinho disse...

please don't

Julinho disse...

É verdade que ao passo do tempo a ironia e o drama esgarçado se tingem cada vez mais destilada e quase finada angústia. E apesar de quase até ao fim ainda haver andamentos mais desafogados (que me soam geralmente como corpos estranhos à obra), o que aparece tão estranho e desarmante (falta-me a palavra), não sei se o sentiste, é que é nos movimentos mais sufocantes desses quartetos finais que há escacíssimos segundos, meia-dúzia de compassos, onde uma qualquer luz se infiltra, ainda que para voltar nem no espaço de uma frase ao desolamento geral (às vezes é só o ínicio de uma frase, em que começamos por entender qualquer coisa como um acorde maior, que queremos seguir, e que nos engana literalmente, cabrão, ao conduzir no mesmo fio a outro trilho desolado). Luz que na generalidade dos outros quartetos e movimentos, não surge, certamente não com aquela carga revelatória que lhe dá o pano de fundo sufocante destes últimos adagios. Como se no final de tudo, de todas as transmutações de uma angústia constitutiva, não se pudesse assumir a plenitude da condenação final de uma vida. O que, penso agora, de outra forma, poderia ser lido como se aquela miragem de luz no mais inescrutável breu, fosse na verdade o reverso da ironia dos primeiros quartetos, nestes (como os 3º e 5º, de que tanto gosto)apontada (absoluta) à clausura da vida, nos últimos (valha-me Deus, o 15º) apontada (quase invisivelment) ao absoluto (irrisoriamente negado) da morte. Seria curioso, talvez porque, já se sabe, escrever e ouvir o desespero que nos põe a lâmina na cabeça (e de facto, para o caso, que lâmina) sempre foi das formas mais extraordinariamente retorcidas de a não materializar. Talvez também no mais íntimo dos termos o gajo tenha sido assim um sobrevivente.

eduardo b. disse...

Sim.

Eu estou completamente esmagado -- esborrachado. Esmigalhado. E é claro que sim, que há luz a passar pelas nesgas e é isso que me prende. A música (como as pessoas o cinema a literatura o a o a o a) vivem para mim da tensão entre, vá lá, spleen e ideal. O absoluto kitsch do qual todo o negrume foi estirpado ou a absoluta desesperança deathmetaleira dão-me uma seca difícil de descrever.

Mas ao pender claramente para o lado negro, dou o flanco a coisas destas, como os quartetos do Shosty. Credo. Estou completamente obcecado.

eduardo b. disse...

Ó pá, e o 8º?

Julinho disse...

Ah, mas sim, absolutamente, o 8º. Estava aliás para o enfiar no meio do arrazoado que me deu lá atrás, tipo como ponto de transição entre as duas faces daquela liminaridade irónica sempre a rasar a dissolução, para um lado ou outro, mas era (é) mais que abusar da pretensa-pseudo-exegese. É dos mais arrasadores (não considerando sequer a sinalização canónica, que a tem). E, como os últimos, só tem para aí umas duas instâncias em que parece precisamente assomar aquela luz que logo se desvela ser o reverso do breu (no primeiro andamento lá está logo aquela filha da putice de começar uma escala descendente com uma nota aguda que parece estar a desenhar uma acorde maior, um cheirinho de sol, e que afinal ilumina a cave, sacana sacana). É mesmo devastador, e dos ciclos de música mais demenciais, também tenho andado com eles pendurados na orelha (o que se torna uma chatice - raio de ritualismos - ao querer ouvi-los em sequência, coisa que não estão, e ter que estar com a atenção de ir trocar de cd). E também sim, soa justo essa do spleen e ideal, privilégio ao negrume, desde que não vá desembocar nos dead can dance, que essa parte forte da estética 4ad nunca me seduziu particularmente. Olha, o que me parece muito estranho é essa chavalada do Brodsky Quartet: ou são os filhos dos originais, ou é outro, e essa canalha não tem idade para andar a tocar Chostakovich (é melhor não ir reparar na foto do meu... - ainda que a super low budget price, confessemos, I'm such a whore, que papo quase tudo).

eduardo b. disse...

Vinha aqui eu ver se já havia resposta ao meu último textículo quando reparo que ele afinal não está cá. Bem. Dizia eu que gosto dos Dead Can Dance. E dizia que as inúmeras imitações mais ou menos descaradas dos Dead Can Dance exemplificam na perfeição os estragos que um desiquilíbrio entre o spleen e o ideal podem fazer -- as imitações excessivamente negras, chatíssimas, em que se perde todo aquele brilho do original, e as imitações kitsch, risíveis na sua limpeza antibacteriana.

Adiante. A soma (multiplicação) da minha ignorância com a minha proverbial dureza de ouvido não me permitem fazer análises tão finas como as tuas, mas, e voltando outra vez ao mesmo, o 8º quarteto prima por um equilíbrio violento das 2 fases. Digamos que tem um desvio padrão do caraças.

Isto leva-me a um problema da minha colectânea, e que, aparentemente, é contrário ao teu: os quartetos estão por oredem, distribuidinhos ao longo de 6 CD. Tudo bem, não fosse o facto de o 5º e o 6º se darem mal com o 7º, com o qual partilham o CD. Ainda terei de lhe dedicar uma atenção especial, mas creio que não morro de amores pelo 7º. O ser o último no CD (de certa forma, o ideal seria 15 CD, um para cada quarteto) pode ter alguma influência.

Julinho disse...

Antes de mais, asseguro que não mexi nos teus textículos. ALiás sou extremamente púdico em relação a textículos alheios, quanto tanto quanto em relação aos meus.
Quanto aos Dead Can Dance, a soma (multiplicação) da minha ignorância com a minha proverbial dureza de ouvido não me permitem fazer análises tão finas como as tuas, e confesso que sou nessa, como na generalidade das matérias, de uma frivolidade teenager, e música dos anos oitenta encharcada em marés soturnas de sintetizadores causou-me imediata epidérmica rejeição (exepção feita aos Sisters - agora podes gozar - circa Floodland, porventura por certo acréscimo de nervo). Mas na face da tua aprovação, porventura não tardarei a dar outra oportunidade às criaturas, quando encontrar em promoção a 1,50 euros. Talvez até a 2 euros.
Voltando ao oitavo, na tentativa fatigante de troca o disco para ouvi-los em sequência, foi essa mesma impressão como fiquei. "Tem um desvio padrão do caraças" é brilhante, provavelmente a mais digna apropriação metafórica de analítica estatística.
Já a ordenação, não deixo de perceber o teu dilema, apesar de na inane propedêutica ritual com que abordo estas coisas não deixar de sentir falta da sequenciação (daqui a uns tempos poderei já estar sobrepujado pelo problema que já tu tens, mais encharcado que já estás na matéria - eu vou tentando resguardar-me a um por dia, excepto quando piro e papo tipo os 5 últimos duma vezada - smart...): quando deixo escapar o 8º e aquilo entra no 13º (e tenho uma obsessive compulsion disorder em parar música a meio, e não só porque seria chique ter uma dessas) apercebi-me da talvez não gratuita associação dos dois: têm de facto algumas rimas internas nos seus procedimentos estilísticos, como aqueles acordes repetidos obsessivamente. Mas duvido que seja mérito das criaturas: os meus estão encaixotados só em 5 cd's, 3 quartetos em cada, pelo que aquilo foi a contar os minutinhos a ver onde podiam encaixar tudo. Pelo que concordo com a ironia devida a semelhante conclusão por dois compradores em regime super low budget price with a special discount: cada cd seu quarteto é que era.
Eu o que tenho mais dificulades em digerir são alguns allegros mais espirituosos, principalmente até ao 8º, que talvez só integrando no corpo da obra é que poderão melhor ser percebidos. Um pouco como o, parece-me de momento que, chatíssimo (e provavelmente radicalmente irónico) primeiro andamento da Sinfonia Leningrado, com uma pomposidade repetitiva mas quase sonâmbula ao rallenti, que depois dá lugar ao segundo andamento que é das coisas assombrosas que já ouvi, num frenesim temático de violência, estrépito épico e lamento tenebroso, com todas essas vertentes anunciadas desde os primeiros compassos. Acho que apesar das sinfonias que não me interessam muito, vou mesmo ter que me atirar à integral. Au. E ainda mais a feira do disco já quase à porta...

eduardo b. disse...

Eu também não escrevo que escrevi por julgar que tinhas sido tu a fazer alguma coisa aos meus textículos -- por entre a espessa cortina de horríveis defeitos que parecem caracterizar-te, não entrevi até agora sinais de desrespeito pelos textículos alheios. Escrevi aquilo como desabafo, quando reparei que ia ter de escrever tudo outra vez. Adiante.

Quanto a Sisters (how goth can you be?), deve o dizer-te que me desilude um pouco essa tua escolha - Floodland? Os Sisters, uma banda mazinha com meia dúzia de bons momentos quase todos no início da carreira, já tinham, por altura desse álbum, perdido o interesse. Curiosamente, é no álbum seguinte (Vision Thing) que voltam a ter uma música com algum carisma, o "More", que ouvi obsessivamente durante alguns dias, já fora de época.

Quanto a Dead Can Dance, e se não estás para negrumes de sintetizdores, a única coisa que tens a fazer é ires-lhes aos anos 90 (Aion, Into the Labyrinth, Spiritchaser e o portentoso disco ao vivo, Towards the Within).

As sinfonias do Shosty é que vão ter de esperar. Como imagino que imagines, não tenho tempo para aquilo tudo. Ontem ainda ensaiei ouvir um bocadinho da 7ª, que me pareceu Dvorak em pior e que me assustou pelos 80 minutos que leva a passar. Há dias ouvi as 1ª e a 3ª (a integral das sinfonias não está em sequência como os quartetos...) e gostei mas non troppo. Também não ouvi com grande atenção. More on that later, portanto. Much later.

Julinho disse...

Eu também não escrevi o que escrevi por pensar que escreveras o que escreveste a pensar que por entre a intransponível cortina de defeitos que me caracterizam estava o defeito de desrespeitar textículos alheios. Escrevi por escrever, como tudo o que escrevo.
A esse respeito, incidentally, vi no mail que alguém postou algures um comentário que, pelos termos tipo "lamento interromper o vosso diálogo", só pode ser numa das caixas de pródigos devaneios bilaterais, mas não me apetece agora vasculhar em qual, a pedir, não sei porquê, para pôr as datas nos comentários, manifestando o seu fascínio pela "descoberta". Aparte dar-te conta do doentio poder de atracção que as freakboxes parecem conter em potência, como praga blogosférica em contentor mal selado à espera de se libertar com consequências cataclísmicas, alguma consideração te inspira o caso?
Os Sisters (I can't be all that goth, but they had some cute things quanto mais não seja por oposição no que eram as margens do mainstream à insuportável pop sintetizada contemporânea), no Floodland, ainda eram bastante interessantes, embora o mais interessante seja talvez uma mão-cheia de Ep's prévios, e embora o único Lp anterior o First and Last and Always seja muito interessante (e completamente diferente, pelo que escuso comporações com o Floodland) ainda que a terrível retrospectiva temporal leve a ouvir em muitas das coisas que lá estão alguns dos (futuramente) tiques insuportáveis do insuportável Wayne Hussey (acho que é o nome daquele insuportável timbre, e desgraçado de mim por me lembrar) dos oh de bradar aos céus de insuportáveis ao ponto de ranger os dentes Mission. Em adenda, sim, também eu ouvi a minha quota parte de More, embora aquilo fosse mais fogo de vista que outra coisa (e hoje o mais giro seria provavelmente o que não cabia na ortodoxia goth, tipo aqueles coros soul meio delirantes no background, alias já vindos do Floodland na estranhamente histriónica This Corrosion, a abrir saudáveis fendas na armadura gótica - eh pá, há muito que o não ouço, mas olha que agora a relembrar, os Floods, a Lucretia, 1959, Driven like the snow, eh pá, eram coisa bem boa e singular), e o álbum apenas um recauchutamento competente, embora o Ribbons ainda tivesse algum punch. Enfim, for gothic's sake, sempre preferi a coisa com um bocado de abrasão e dissonâncias estilísticas, embora nunca tenha passado, presumo eu, da rama, e certamente não lhe tenha envergado as vestes.

Julinho disse...

Estive a ouvir a tua versão Brodsky, e acho que tenho prefiro os meus ignotos Rubio Quartet: é mais selvático, mais incisivo, mais no limiar de qualquer coisa we dare not say (o que há quem não goste). A tua se calhar tem a vantagem de resultarem mais límpidas as linhas dos diversos instrumentos, mas não me ataca tanto, e o som é mais metálico e (demasiado) seco (donde mais claro). Também é capaz de ser da qualidade do ficheiro, mas vou pensar que não para ficar mais satisfeito com os meus Rubio (apesar de terem bem mais pinta de paspalhos que os teus, que afinal não são assim tão maus, eu é que já vejo canalha em todo o sítio - o que é que se passa que já não há quartetos de cordas com bom aspecto, maduros e sóbrios. a certo nível, parece-me grave).

Julinho disse...

Incidentally, esquece (if you will) a questão comentarista: a indolência venceu-me a servilidade no serviço à causa das microscópicas psicopatologias colectivas. I've done my share.

eduardo b. disse...

Quanto à questão comentarística: esqueci. Fá-lo-ia de qualquer forma.

Quanto aos Brodsky: não confundir a qualidade do ficheiro que tenho no meu magnífico blog(ue) com a qualidade do CD. O som original não é tão metálico, não tem aqueles agudos.

Quanto aos Sisters, és capaz de alguma razão. O Lucretia my reflection é, de facto, uma grande rockalhada, uma excelente rockalhada. E o Dominion /Mother Russia está entre as mais estimulantes dos 80s. Mas This Corrosion é uma porcaria, um pastelão interminável e desinterssante. As coisas do princípio é que era, apesar do som primitivo. Alice, The home of the hitmen, Anaconda, Kiss the carpet... Enfim, tu mais as tuas manias puseram-me a fazer para aqui downloads de Sisters of Mercy à bruta. Ai... Caralho, pá...

eduardo b. disse...

Ah, sim, e dos Brodsky originais já só lá está o violista. A Wikipedia sempre vai servindo para alguma coisa...

eduardo b. disse...

Olha:
http://www.musicweb-international.com/classrev/2004/Jan04/Shostakovich_Brodsky.htm

e
http://www.musicweb-international.com/classrev/2003/May03/Shostakovich_StringQuartets_complete.htm

Anónimo disse...

:|) ... olha, não sei como se põe um emoticão a rir, por isso dane-se.
Bom, devo dizer que o gajo dessas reviews consegue a proeza de ser ainda mais xoninhas que eu: é tudo bom, recomendo comprar tudo... ó vademecum(?). De qualquer forma, não confio na palavra de uma criatura que diz que o melhor é o que nunca ouviu. Por isso os meus Rubio rule. E não falou da integral da Naxos que é capaz de também não ser má.
Ainda quanto aos Sisters, as minhas desculpas por contribuir para esvair os teus downloads. O This Corrosion tenho ideia também de ser enquanto canção uma chatice paquidérmica deveras (acho aliás que tem uma extended version), e sim, porventura precisamente pelo rudimentar, essas faixas de Ep's são do melhor (quase toda a colectânea some girls wander by mistake é muito boa): Alice lembro-me que era uma excelente, tensíssima canção, já o Home of the hit-men tenho ideia de ser só um esquisso roufenho, mas tenho ideia ainda do Body Electric, uma óptima versão dos Stones (acho que era o Gimme Shelter), havia coisas muito porreiras, tanto mais notável quanto os esquálidos meios. Talvez os downloads não tenham sido em vão... E confesso que não resisto a ter alguma simpatia por uma banda que, sendo "gótica", faz uma coisa (sobre a qual até escrevi qualquer coisa que está está enterrada num drafts e terei que sacar não tarda, pela falta de assunto), que é uma versão do "Gimme, gimme, gimme" dos Abba(!); e saca títulos e nomenclatura do Cohen, porventura até do Withman. There has to (or there should) be something there...
Ah, e obrigado pela confirmação dos Brodsky: foi para mim um grande passo para a confirmção de um resquício de sanidade (como os indícios sóem ser inversos, I don't bother to check anymore...).

eduardo b. disse...

:-D

Pois, era precisamente a colectânea Some Girls Wander by Mistake que eu tinha, em cassete, há tantos anos que até faz impressão. Estou a ter algumas dificuldades em sacá-la na íntegra, mas algumas faixas já cá cantam. Olha, falta-me o Heartland, por exemplo, aquela maravilha esquizofrénica.

E as críticas aos quartetos, filho, não as li. Passei-lhes o olhos por cima e vi que dizia bem do Rubio. A do Brodsky nem me dei ao trabalho porque presumo que seja do melhor e não estou na disposição de correr o rsico de aturar alguém a dizer o contrário. Além do mais, passei o dia todo a beber acetona ao som do 12º, o que me deixou com pouco tempo para me dedicar a grandes leituras.

Anónimo disse...

É, o Heartland é do mesmo EP que o óptimo Gimme SHelter e o tão prostituído até ser quase inaudível Temple of Love.
As críticas era a chover no molhado, pá. Do Rubio dizem que é bom, mas depois passam o tempo a fazer comparações entre outras versões, por isso nem sei porque é que falam do Rubio. O Brodsky Q. era supostamente a melhor compra entre as versões britânicas (que é o mesmo que dizer nada). A única coisa que interessa é que consideram, como me pareceu ao ouvir o teu ficheiro, que o tocam de forma mais "understated", o que para os senhores é bom, pois enriquece a percepção do que se está a passar, como também me pareceu, só que (pelo menos aqui)eu prefiro ímpeto e risco (ainda que se arrisque no salto a estatelar-se no chão em vez de aterrar no colchão - odd metaphor...), e no primeiro andamento do 5º continuo ainda continuo a sentir falta da outra versão que tenho, do Éder Quartet, que chia até arrepiar os ossos.
Enfim, terás pois bons argumentos (caso te viesse a interessar, se é que não já interessou) para não estares mal entregue aos brodskys para prosseguir a (obsessão). Só espero que não andes a empregar a acetona do Minipreço/Dia: é demasiado corrosiva; assim não dá para chegar nem ao final do 2º andamento, o que, convenhamos, seria um desperdício.

eduardo b. disse...

Eu não desisti. É que agora não consigo.

Anónimo disse...

Desde que não desistas...

eduardo b. disse...

Muitas coisas, entre as quais trabalho, e aquele andamento único do 13. Mas não desisti, prometo que não desisto.

eduardo b. disse...

Não tem nada a ver, mas se bem lembro, nos tempos em que tu eras um verme destituído a quem ninguém a não ser eu prestava atenção, volta e meia havia uns comentários de uma tal de Ana de Amsterdam, não havia? Eu podia ir lá atrás ver, mas não me apetece nada. E essa Ana de Amsterdam é a mesma que agora tem um blog(ue) lincado na tua barra lateral? É que andei por lá e gostei.

Anónimo disse...

Good to know.

Quanto ao mais, não te quero acorrentar à tua obra pia, mas a par das outras três pessoas, e a ajuízar pelo desaparecimento, por exemplo, da minha Ana de Amsterdam, não sei se não estaremos mais próximos de só tu prestares atenção. Não seria estranho, excepto pela parte de prestares atenção. Adiante. Pelo que sei, e pelo que leio, não, não é a mesma ana de amsterdam. Mas é uma coincidência feliz, porque, de facto, das olhadelas ainda superficiais que lhe dei, encontrei dois ou três senhores (ou senhoras) posts. E apesar de gostar de Led "Zeplin"...

eduardo b. disse...

Sim, sim. Eu só não vou prosseguir por este caminho porque é o tipo de assunto em que eu não me meto, a não ser para mandar umas bocas e fugir, especialmente desde que, há uns tempos me envolvi numa amarga discussão com uma criatura que mantinha um blog(ue), por sinal bem interessante, e que resolveu fazer uma birra pública por ter poucas visitas. Tu também não és muito certo da cabeçona e, não se vá dar o caso de a coisa cair para o mesmo lado, eu prefiro estar de fora. Adiante: eu não gosto de Led Zep(e)lin e não falo ideia da razão que assiste à senhora naquela sua polémica afirmação. Constato apenas que, para já, o facto de tu gostares deles prenuncia, entre outras coisas, que ela pode muito bem estar certa.

Julinho disse...

Ahh, então é isso. Bem me parecia que tinhas umas certas manifestações de stress pós-traumático quando tocava a essa temática. Como a coisa até já tem nomenclatura clínica, talvez fosse altura de buscar auxílio, dado que já estás em etapa de to auto-infligir. Afinal, quem veio com o assunto, no qual não te queres meter, foste tu (o que é claro indicador de um pedido de ajuda inconsciente). Apenas te respondi com a factualidade, sem qualquer indiciação de "assunto a discutir", porventura com vagos trejeitos auto-depreciativos (what's new?), de a minha audiometria(?) ser desde o início de uma constância irrepreensível, some come, some go (aliás, nem falei directamente da audiometria, mas dos sujeitos particulares nessa audiometria, muito mais condição do que quer que seja do que qualquer ratificação quantitativa, pormenor ainda mais incompreensível de te passar ao lado). Não só não me queixei de coisíssima nenhuma relativamente às minhas irrelevantes audiências como, para ser franco, duvido que pudesse prosseguir nesta idiotice pegada (o bl(og)ue, bem entendido)se assim não fossem: portanto se, de facto, isto pode a cada instante ser passível de ir mais ou menos directa ou expeditamente para a adequação do olvido ao alcance do "delete this blog", não será pelos teus fantasmas audiométricos (pelo menos não na causalidade que antecipas). Aliás, não é preciso ser um génio para reconhecer e mimetizar (caso se deseje) as manigâncias e modulações blogosféricas para arrebanhar uns dígitos, e embora tivesse todo o gosto em agregar à ínvia auto-estima da minha pessoa o falhanço em até por essas vias engordar estatísticas, o facto é que os meus self-deprecating bones haven't exactly walked those miles. E mais não digo, que claramente some things are best left unspoken, apesar de essa misguided invectiva ter um substracto também devidamente unspoken.
Por isso baixa lá o indicador censório e o tom de seminarista frustrado, que na inusitada eventualidade de me envolver numa amarga discussão podes crer que a escolha de tema recairia mas é sobre o teu reprovável desdenhar dos Zeppellin. Mas enfim, já aprendi a aceitar que tu não és perfeito.

eduardo b. disse...

Nunca mais volto a falar contigo.

Anónimo disse...

Vá, não sejas assim, não te faças careiro: sabes bem que gostaste... E não queres ter the downfall desta coisa a pesar sobre a tua cabeça (qual coroa de louros, eu sei, mas enfim).

eduardo b. disse...

Fuckin unbelievable... És mesmo um gajo torto, que gosta de tornar as coisas desnecessariamente difícieis. Fosga-se!

Julinho disse...

Hã?

eduardo b. disse...

Sim, sim!

Anónimo disse...

Care to elaborate?
(a minha desculpa de compreensão agradecia...)

eduardo b. disse...

Ó pá, tu escrevias uma posta em tempo útil e eu continuava a minha performance lá. Mas não, deixas-me pendurado naquela do nunca mais falar contigo, obrigando-me a vir aqui, num acto que me desmente vergonhosamente, acusar-te. É muito difícil trabalhar assim.

Anónimo disse...

Oh pá, mas eu não poderia continuar a postar sem saber se não estavas chateado comigo... Tinha que manifestar o meu pesar silencioso... E eu compreendo, eu compreendo... mas há-de ser minimamente recompensador saberes-te à altura de tamanha provação...

eduardo b. disse...

És um monstro de desumanidade e insensatez, Yester, um monstro.

Anónimo disse...

Ahhh, não mais que uma sombra esmaecida do passado... No entanto, é muito simpático da tua parte dizê-lo, mas tens realmente que deixar de me pôr num pedestal...

eduardo b. disse...

Pequena precisão: não te ponho a ti num pedestal, ponho o pedestal em ti. A ordem dos factores não é indiferente.

Anónimo disse...

Make it a small one, please.

eduardo b. disse...

Ora, Yester, eu gosto de tudo em grande...

Anónimo disse...

Well, that rules me out.

eduardo b. disse...

Pronto. Para o que eu havia de estar guardado, santo deus.

Anónimo disse...

Ó por favor, não te faças agora de matrona espavorida. Com as tuas deixas, não só estava na cara (ehr...), como esperavas o quê?... elevação (ehr...)? (oh my, I can't turn it off anymore!)

eduardo b. disse...

"Matrona espavorida"? Isto deve ser o resultado da tradução de "virgem pudica" para o plano de realidade em que eu, nessa tua cabecinha distorcida e pérfida, me situo. Creio que não gostei, mas reservo uma opinião definitva para quando perceber essa tradução, o que pode muito bem nunca acontecer.

Anónimo disse...

Ó filho, virgem púdica, matrona espavorida, para mim já é tudo intermutável, pós-Lavoisier... sê o que quiseres e eu sigo a linha. Até porque, ainda antes disso, nunca fui criatura para dizer a ninguém o que fazer com o seu hímen.

eduardo b. disse...

O outro dia foi a senhora do laboratório de análises clínicas que, ao entregar-me o frasquinho para a urina, me disse que, antes de urinar para dentro do dito, deveria "limpar a zona". Agora, és tu vom o meu hímen. Depois não querem que eu tenha problemas de identidade.

Julinho disse...

Com sabão azul, espero.
O melhor que já me disseram foi, com cara muito séria de quem tem que dizer estas coisas porque é dever clínico apesar do constrangimento social, foi para "não ter relações sexuais". E o que é giro é que, porventura a despeito da pretensão à objectividade e desempoeiramento clínicos, o processo físico que lhes estragava a análise não era propriamente evitado só pelo "não ter relações sexuais". Mas enfim, não tendo "cara clínica", escusei-me a perguntar à senhora se então isso queria dizer que podia esgalhar o pessegueiro.

eduardo b. disse...

Esperas que com sabão azul? Mas o que é que se passa contigo, Yester? Além do mais, eu não vou a sítios onde sugiram maus tratos à minha zona.

Anónimo disse...

Eu, eu não sei... é... é um trauma antigo... envolve um cotonete... dois, na verdade... Mas lá que para "limpar a zona" o sabão azul é que é, lá isso é... enfermeira dixit. Toma lá cuidado nessas recolhas... A despeito dos teus cuidados em não ir a sítios daninhos à zona, os insuspeitos redutos clínicos não são de todo danger-free zones... uh, para a zona... (estou a ficar um bocado nauseado... então aquele Bem-fica, hein? - é assim que se escreve?)

eduardo b. disse...

Desconhecia (mas como havia de conhecer?) a tua erudição no que toca à limpeza da zona. Eu, ingenuamente, imaginei que o algodão embebido em álcool que a senhora do laboratório me deu era bom que chegasse. Para a próxima já sei: exigirei sabão azul.

Quanto ao Bem-fica, filho, não sei do que estás a falar. Mas se fosse a ti ia ao médico.

Julinho disse...

Na verdade o sabão azul não era na hipótese insuspeita de te dedicares a verter águas em laboratórios. Aí, andar a passar barras de sabão de zona para zona, na boa tradição prisional era capaz de ser ainda mais contraproducente (a menos que se quisesse animar as análises). Pelo que, está bem, seria de presumir outra forma de acção... Agora, álcool no pinto?! Primeiro, espanta-me que fosse álcool. Segundo, fosse ou não, para o que interessa, tu presumiste que era, e amarfanhas-te-o no bicho. Ai filho, francamente, as coisas a que te dispões... (não que não estivesse visto...) já pareces eu.

eduardo b. disse...

Bom, enfim, não seria álccol, mas outro líquido desinfectante e transparente qualquer. Chamei-lhe álcool porque nem pensei nisso. Mas não é isso que interessa. O que interessa é isto: "pinto"???

Anónimo disse...

Well, SOMEONE had to take the edge off desse teu relato sórdido de limpar zonas com álcool em laboratórios (essa medicalização linguística já foi longe demais e, para mais, não engana ninguém, blenorragia my ass... ou antes, não), e tive que recorrer a outro repertório.
Porquê, diga: o problema de fundo com o descritor "pinto", será de natureza linguística ou pessoal? Think back. Think deep.

eduardo b. disse...

O meu problema com o descritor "pinto" é que não concebo que se possa chamar semelhante coisa à pichota. É evidente que cada um chama o que quiser à sua sarda, e que daí se poderão tirar inúmeras ilações, mas "pinto" é simplesmente deprimente. Que género de criatura é que se lembra de usar esse descritor (jfc...) para designar o seu zé bernardo, o seu submarino? Pela tua rica saúde.

Anónimo disse...

Olha, a primeira (the real thing, salvo seja) nem reproduzo, púdico linguareiro que sou. Agora, sarda, é nojento (não me perguntes porquê); zé bernardo é curioso, aquela coisa meio picaresca, com certo charme ou limitação rústico, mas arbitrário (pobre zé bernardo); submarino, é engraçado, mas na pior(?) das hipóteses altamente dellusional, ou na melhor(?) a última etapa antes de já só o fistfucking contentar.
O "pinto", nem o vou defender, não sendo das minhas preferências, senão para comic relief que se impunha. De qualquer forma, qualquer queixa nesse matéria deve ser reenviada para a responsabilidade do léxico português do outro lado do Atlântico.
Submarino!... senhores... Para isso, antes bacamarte.
(jfc?)

eduardo b. disse...

Ah, sim, uma gajo que chama pinto à pila vem-me para aqui repugnar-se com a pichota e, embora sem razões, com a sarda. Vá lá, safa-se o bacamarte como única nome decente que aranjaste para chamar ao mangalho.

(jay eff cee = jesus fucking christ)

Anónimo disse...

Fazes-me lembrar uma entrevista do tempo em que o Baptista-Bastos achou por bem com a sua voz de clarinete entupido fazer um programa de entrevistas televisivas, em que o dito cujo foi posto na linha por uma, acho só podia ser, psicanalista, por dizer pirilau, e a gaja censurar essa fuga (masculina?) a lidar com essas coisas e tal pelos nomes "científicos"" ou "correctos": pénis, dizia ela, é um pénis. Como eu tenho muitas reticências quanto às psics em geral (não que uns barbitúricos não dêem jeito aqui e acolá), acho graça que tenhas acabado com um dos poucos que fazem parte do meu repertório mais fixo (que não tenho, aliás, acabo de constatar a pobreza do meu vocabulário na matéria, que tristeza): mangalho conserva aquela pujança (blérgh) picaresca com ressonâncias familiares sem cair no grafismo ou metáfora inimaginativa. What would the lady say?... A circunscrição clínica só pode dar péssima literatura e pior clima de alcova...

(ahh, e isso é sigla registada, ou elucubração tua?)

eduardo b. disse...

É elucubração minha, filho, é elucubração minha.

Quanto à matéria de facto, devo dizer que magalho não é palavra que use, por mais que a tua breve dissertação me apareça como justa. Pénis muito menos, psi ou não psi (que é mais abrangente que psic). Eu é mais pila, eloquente e majestosa em toda a sua economia, e, em casos mais graves, caralho, que dispensa mais prosas.

O pugrama do B-B a que te referes é aquele em que ele convidava uma pessoa que, invariavelmente, ficava 90% do tempo calada a ouvir o próprio B-B entrevistar-se a si próprio?

Anónimo disse...

Esse mesmo, que inspirou provavelmente a última coisa aparentada a humor regurgitada por um tal Herman José.

E sim, a tua opção por defeito é provavelmente a mais pacífica (ah, afinal também sei "verga", mas também não gosto), embora tenha um substracto longilíneo que me parece vagamente patriarcal, mas também alguma coisa tinha que o ser, e esse será com alguma razoabilidade o último reduto. A tua opção para casos mais graves é também bastante pacífica, mas tenho algumas dúvidas quanto à sua eficácia terminal. Não me espantaria que houvesse aqui algures vestígios fósseis de prosa a negar essa hipótese. Mas deixo a refutação à inexistência de arqueólogos discursivos interessados.

eduardo b. disse...

Esta conversa começou por ser acerca dos quartetos de cordas do Shosty e agora andamos para aqui com este paleio acerca do madeiro. Deve ser a isto que se chama ecletismo.

Anónimo disse...

Psicopatologia is more like it. A menos que se queira reclamar inimputabilidades artísticas. Aí, madeiro é fabuloso.

eduardo b. disse...

Inimputabilidades artísticas, claro! Ora...

Julinho disse...

Ah, claro, estava na verga, uh, na cara, uh... Pronto, acabou, não falo (hã?) mais nisso.
Portanto, para ficarmos num ecletismo com um toque cíclico budista (será?), ou nietscheziano se for caso, olha, fui assistir à Sinfónica portuguesa interpretar a 7ª do Shosty (se me permite), e é muito curioso como ressaltam escancaradas todas as contradições expressivas (necessárias) do homem naquele contexto, tentando sempre precariamente equilibrar-se entre o trinfalismo em ribombantes acordes maiores e a visão do sangue manchando os estandartes, entre o crescendo repetitivo a dar para bater o pé e a urdidura complexa policromática (o segundo andamento tem coisas, pá, caramba). Isto a preço acessível. Viver na província às vezes dá muito jeito... E o João Grosso tem um sotaque inglês muito poseur mas sem naturalidade, que resulta muito fajuto. Mas porque é que isso vem a propósito já não me apetece explicar, nem a ti ler. Às vezes dá jeito quando as coisas se encaixam. Mas só às vezes.

eduardo b. disse...

Sim, não falemos mais do talo, que já cansa.

Nunca tive a oportunidade de assistir a uma interpretação do Shosty ao vivo. E, últimamente, também não me tenho dedicado muito a ele ao morto, para falar verdade. Aos quartetos, deixei de os ouvir porque me estavam a fazer mal. No capítulo das sinfonias, encalhei ali no Largo da 5ª, coisa de solene tristeza a que, parece-me, faltam os tais acordes maiores. Ouvi obsessivamente durante uns dias e depois virei-me definitivamente para o trance psicadélico.

Não percebi foi a do João Grosso, filho, explica lá isso.

Julinho disse...

Eu também nunca tinha tido a chance, e apareceu esta, e fui. Prontes. Às sinfonias também não comecei a ir in depth. A 5ª, por acaso, já a tinha ouvido muito antes da febre da efeméride, mas nunca me coisou muito. Creio que havia uma certa pomposidade que na altura não me pareceu resguardada pela ambiguidade de certos momentos (os melhores) da 7ª (embora pompa também não lhe falte, uof).
A do João Grosso, if you must, é a de ele ter aparecido como recitante numa das peças do programa, «O sobrevivente de Varsóvia» do Schöenberg, recitando em inglês (e uns nacos de alemão, quando encarnava um kapo, o que lhe saia melhor, certamente pelo meu nulo domínio desse idioma, ou o melhor domínio dele desse idioma que o inglês, do que por maior afinidade com o evocado), e o sotaque dele bla bla (cf. comentário acima).
Donde se conclui que se ainda te podes virar definitivamente para o trance psicadélico, muito te invejo. Não são todos os life-worlds ou simulacros decentemente ilusórios que estão ao alcance of each and everyone of us.

(talo... agora já só estás em modo de sobrepujança metafórica por fechamento referencial...)

eduardo b. disse...

Talvez o senhor estivesse simplesmente grosso, Yester.

«Não são todos os life-worlds ou simulacros decentemente ilusórios que estão ao alcance of each and everyone of us.» <-- explica.

Anónimo disse...

Parece impossível, Eduardo, que grosseria... Particularmente essa nova compulsão do "explica" "explica", a fazer-me sentir como se estivesse numa prova oral, isto num buraco com metáforas fálicas a ricochetear por tudo quanto é lado. Have you no shame, sir?
Não explico.
bof