Na outra margem, por sobre a calçada portuguesa (faking nagging Vasco Barreto #54)
Parece relativamente evidente que a geografia foi modificada, e a Margem Sul é, no presente, bloguisticamente, um dos mais trendy place to be (ainda que o mercado imobiliário esteja estranhamente um pouco lento a cavalgar a onda migratória de luxo oratório) (Coimbra sendo já um clássico, prestando-se mais a distracções nos mapas turísticos da cena). Mas na ausência (yet) de uma consciência universal do facto, convém refrear as sequelas mundividentes da exuberância cosmopolita a sul do Tejo para a (im)precisão geográfica com que se olhe para o resto desconsiderável do mundo. Sem contestar o ditame vidaliano e o aconchego anímico de postular que a transumância é literariamente produtiva, temos também que reconhecer que mudar de código postal não é exactamente o mesmo que chegar à nova morada a torcer a roupa após cruzar um oceano. E para a restante blogosfera interessada, sem a compassividade de um aforismo goreano à mão para a ocasião, confesso que me espantou o silêncio aparentemente sem apreensão por il ritorno di Vasco Barreto in patria.
A menos que fosse um pacto do não-dito para não materializar a ameaça fantasma, eu por mim confesso que muito temi pelos efeitos baqueantes (de baque, está bem?) da deslocação. Ainda (e porque) mantivesse em Nova Iorque Portugal no coração e na pena (miauu), a buffer zone atlântica de alguma forma parecia nutrir uma não-chega-a-ser-paradoxal omnipresença planante e distanciada sobre as guinadas fenomenológicas aqui do quintal, enquanto lhe evitava o fascínio cabotino com o happening cosmopolita (começo a odiar a palavra) quotidiano das esquinas das avenidas. O descompromisso engajado perfeito, no fundo (o que levava a que nem fosse essa a necessária centralidade do seu opus in progress).
Naufragado agora cá na terra, como não temer que se visse incapacitado, como pelo amor de mãe sufocante, pela impositividade material das manifestações paroquiais de vida que antes poderia, mesmo com maior constância que qualquer nativo, gerir na saudável distância de estrangeirado que as excitações comunicacionais ainda não (felizmente) obliteraram, mas já tornaram pertinentemente transponível? Em certo sentido, esta transferência poderia ter tido bloguisticamente o impacto de um regresso de Nabokov à Rússia.
Francamente, o meu único descanso nesta inquietação toda foi, dada a prolixidade (mesmo com controlo de qualidade) barretiana, que, com toda a probabilidade, tomando a sua futura autobiografia mais facilmente o título de "Shut your yap for just a freakin' second, Memory" que outro assim nessa linha, o único problema que se lhe colocasse, como o próprio indiciou, fosse eventualmente o de ter que seleccionar um pouco mais o material print-worthy dentre o imparável e incompreensivelmente regrado stream of bloguingness. Tendo deixado passar o tempo para nos sentirmos seguros de novo, mesmo assim, para aquietar as almas perturbadas que se não manifestam, deixo aqui o aviso de que me encarrego agora mesmo de iniciar uma vaquinha para, em caso de necessidade, se comprar um bilhete de avião para correr desveladamente com o homem daqui. Quem me quiser ir ao porquinho (para enfiar lá qualquer coisa, that is (much better)), é favor avisar primeiro.