domingo, 12 de março de 2006

Efeitos secundários da sociedade vigiada

Quando passo por um detector anti-roubo estou sempre à espera que ele apite.

32 comentários:

eduardo b. disse...

Aquela tensão é horrível, até porque já me aconteceu várias vezes apitar mesmo. O detector, não eu, pelo menos ainda. Às vezes apita quando vou a entrar, o que até tem a sua graça - pergunto-me se não haverá quem use o estratagema de fazer com que aquilo apite à entrada para roubar mesmo alguma coisa. Lembro-me agora de um filme do Benigni em que a personagem representada por ele próprio distribui magnetos pelos bolsos e sacos de compras de toda a gente que anda no supermercado, fazendo assim com que os detectores apitem à passagem de qualquer pessoa. A personagem dele, claro, aproveita-se da situação para uma sessão de roubalheira desmedida. O Monstro (Il Mostro). Lembrei-me. Não me lembro de mais nada do filme, mas lembro-me dessa cena. E do nome. Agora também não me lembro do mais que ia dizer acerca do assunto, mas com certeza não era nada de jeito.

Anónimo disse...

Acontece-me o mesmo. Claro que um psicólogo da treta diria ser essa tensão emanada do facto de ter uma série de artigos ilicitamente enfiados no bolso e do receio de na minha incompetência infantil (só porque tinha que ser infantil) não ter rasgado bem a etiqueta. Balelas.
É a sociedade e pronto.
POr acaso já há muito que me não acontece, mas nos bons velhos velhos velhos tempos da faculdade, os livros que trazia da biblioteca apitavam sempre à entrada nos detectores da cidade. E então, como são muito metódicos, punham-nos num saquinho, selavam, e depois à saída só mostrava o saquinho, apitava, e seguia o meu caminho sem ninguém me chatear. E assim constituí a minha discoteca (os livros davam muita bandeira). Valeu as propinas, sim senhor.
Lembro-me desse filme, mas não o vi. A cena parece boa, mas o Benigni não me coisa. Tenho muitas limitações a lidar com o histriónico.
Andas a esmerar a arte fotográfica...

eduardo b. disse...

Se bem me lembro (ou não), o filme não é grande coisa, apreciação a que não será alheia a minha falta de paciência para o histriónico. Também.

Agora o que me está a chocar é essa tua confissão de roubalheira em lojas de discos, Yester. Isso é muito feio - e mais feio ainda é contar aos outros. Essas coisas escondem-se, pela tua rica saúde.

Já a tua franqueza quanto à minha ars photographica é mais bem vinda (não que a outra não o fosse, mas prontch), muito embora sirva para demonstrar a tua relutância em acatar instruções (o que também acaba por fazer conjunto com a prática do furto). Enfim, como me babei perdoo.

Anónimo disse...

Oh pá, não faças de conta que me levas a sério, para me levar ao engano e extrair uma patética confissão (o tempo que passei à procura do "extrair", e só me vnha à cabeça "elicit" "elicit" - já não tenho vocabulário português, porra. Estou mesmo aflito. Ai, desculpa, não era esta a confissão. Nevermind, aliás, caga nisso). Já te disse que sou um choir boy, ia lá agora palmar discos. Não resisto ao efeito retórico, é o que é. Francamente. Agora só falta indignares-te quanto ao andar-te a mentir. POr acaso senti-me tentado uma vez, ao ver um disco na prateleira sem etiqueta. Mas não o fiz. POr cobardia certamente, porque não tenho moral. Ah, mas roubei pastilhas elásticas na infância. POr isso sou mesmo um pulha desde puto, nada a fazer. Mais valia exercer com consistência, que o meu lugar infernal já está garantido. Hummm, será que ainda posso requisitar livros com o cartão fora de prazo?...
Quanto à minha "relutância em acatar instrucções" (isto soa muito bem, não sei porquê,. esperemos que seja só belo efeito retórico), já se sabe o que a casa gasta. Já que tu não podes (o virtual tem os seus resguardos e suas limitações), eu vou esfregar o meu próprio focinho na caixa de comentários, mas duvido que vá ter grandes efeitos pedagógicos. Pelo menos enquanto a transgressão apaziguar na fonte a tua admoestação vou-me safando com o crime.

Anónimo disse...

Caro Yester, também passo pela mesma situação. Me dá um frio na barriga todas as vezes que passo pelos malditos detectores. Pior ainda, começo a imaginar coisas do tipo "alguém pode ter colocado alguma coisa da loja dentro da minha mochila e portanto o apito irá soar". Por incrível que pareça, antes de passar costumo verificar o saco para ver se não há nada lá dentro......

eduardo b. disse...

A vida é desilusão. Aliás, vejo-te como a pessoa indicada para escrever uma posta sobre o sintomático que é o contrário de desilusão ser ilusão. Mas o que aqui me trazia era dizer que já nada me surpreende. Que mentires acerca do teu passado criminoso não me choca nem metade do que julgas. Sim, sim, não és um cadastrado, so what?

Quanto a outras transgressões, acho que o melhor é não dar mais pavio, caso contrário perderei alguma legitimidade para protestar. Não que isso alguma vez me tenha prendido, mas por uma questão de... olha, escapa-me a palavra.

Anónimo disse...

Oh, my!!! (em registo vocal de adolescente da compleição feminina com cara de quem está a receber uma colonoscopia e as mãos a tapar a boca por onde emite os guinchos) Walrus!!
Sabes que me passa exactamente a mesma coisa pela cabeça: que alguém me pode ter posto qualquer coisa no bolso para aquilo apitar. Só lamento não te poder acompanhar na confissão de verificar se está lá realmente alguma coisa. Porventura ando a fiar-me demasiado no sanidade alheia... Claro que se a tua confissão for falsa com o pretexto de extrair a minha eu negarei tudo. Está-se a tornar um hábito, aliás. Raio, parece que andamos a pensar todos pela mesma cabeça e só o segredo nos faz diferentes.

Anónimo disse...

Bom, parece que a tua nomenclatura de mim anda a fazer escola, Eduardo. Espero que estejas contente. Daqui a bocado tenho que ir mudar o profile. Não que isso interesse.
Então e isso da desilusão é uma encomenda ou quê? É que se é, não estou à altura. Mas se quiseres ditar aqui a resposta eu depois copio-a para um post. Sempre elevavas mais o nível do pedaço.
Quanto ao não ser cadastrado, não o sou porque não fui apanhado. O que é muito melhor. Intrinsecamente claro. Porque socialmente é preciso a ratificação de uma criminalidade para o sucesso do escape em todas as outras ser também ratificado. É triste ser um criminoso não reconhecido. POr isso é que me tornei um mentiroso compulsivo. E ponho artigos de lojas nas mochilas das outras pessoas para as ver pagar pelos meus pecados enquanto não pago eu.
Estava a ver se isto me levava a algum lado, mas não. Estou tão (qual é que era a palavra?) como tu...

eduardo b. disse...

Espraia por aqui à vontade esta tua até agora desconhecida (pelos menos para mim) faceta mitómana, espraia. Tem a sua graça e é, quando utilizada inteligentemente, um recurso postal (no seu sentido mais lato) inesgotável. Eu que o diga.

E sim, era uma encomenda, que, vejo, foi recusada. És um estafermo.

Anónimo disse...

Mitómano, estafermo (já não ouvia esta pérola tão pouco envergada há uns tempos... soube que nem ginjas), tens que parar de estragar-me com mimos. Claro que o problema é pressupor que só agora ando mitómano. Posso andar mitómano desde sempre. Ou estar agora a ser mitómano a propósito da suposta mitomania. Aqueles círculos giros. De facto, muito inesgotável. Ao contrário do je, mitómano ou não.
Quanto à encomenda, querias o quê? Que me pusesse ao balcão com cara séria a espigar o bigode e a desiludir (voilá) a clientela com expectativas concretas para serem satisfeitas, e não mais gozar da impunidade de a qualquer postada inane me safar com um «ele não sabe o que faz»? Anda um gajo a dedicar toda a vida a nulificar-se para não ter nada a provar (nenhuma desilusão a causar) (nenhuma ilusão a produzir) e querem-no pôr ao desafio?! Sei lá eu porque é que (espera aí...) (já está) é sintomático o contrário de desilusão ser ilusão? Querias-me agora a arengar pseudo-filosofia e pôr mais dedicadamente a figura de urso nas minhas ventas? Vê lá. Estou aqui estou a fazer-te a vontade (como é sabido, o pior castigo).
(mas primeiro explicas-me porque é que é sintomático... Só faço exames com consulta. I'm fussy that way, qué que queres)

eduardo b. disse...

Mas que pruridos, Yester. Podias simplesmente escrever uma postazinha com umas bacoradas acerca do assunto. Tal como podias dissertar acerca de como aquilo de que falas nesta que presentemente parasito podem não ser os efeitos secundários, mas os primários da sociedade vigiada. Será um efeito secundário da maquineta que apita quando se passa com o artigo roubado (ou não), mas da sociedade vigiada...

Meus Deus! Dou comigo a problematizar! Mas o que se passa comigo?! A culpa é toda tua! Traste!

Anónimo disse...

Mas escrever postazinhas com bacoradas é o que faço. Agora, quando as bacoradas são encomendadas, aí o peso da atribuição de uma expectativa (porque senão não eram encomendadas),e aí se instala o ameaça da desilusão. Ora desiludir alguém que, coisa rara nestes dias, me ilumina os dias com insultos de primeira classe, compreende-se, é simplesmente algo que não podia suportar. Ou pior, imagine-se, escrever alguma coisa de jeito e instilar uma semente de respeito em alguém de cujo desprezo activo me alimento. Ora, contigo já a problematizar (donde já podes tu escrever a posta), e eu, com a escusa duvidosa à encomenda, a receber a minha dose diária de doces injúrias, o quadro parece-me bem composto. For now, at least.
(claro que a encomenda podia ser a tua forma perversa de divisar um caminho para eu me espetar de forma mais direccionada na face do desafio, como tal, ganhando-se terreno sólido para ancorar os teus insultos com dados empíricos ainda mais sistemáticos. Hmmm (gemido de prazer antecipado), mon couer balance...)

eduardo b. disse...

"Desprezo activo" é um exagero de um masoquismo perfeitamente desnecessário (como todo o masoquismo, mas ainda assim). E um paradoxo, pois o desprezo, se implicar alguma espécie de actividade, já o não é. Naturalmente, se te desprezasse, não punha aqui a ponta dos dedos e, caso lesse o blog, negá-lo-ia até mesmo sob tortura.

A minha sugestão, a que chamas de encomenda para ver se eu me chateio com a mercantilização do meu intelecto superior, era só para te ver aí todo contente a enredar a ideia. Isto era algo que terias percebido se não fosses uma besta. Isto era algo que eu seria incapaz de te perdoar se eu próprio não fosse, também, uma besta. Mas tu és mais.

Anónimo disse...

Ora, não me venhas com aprumos linguísticos, ou retenções expressivas geracionais (o clássico «estás-me a dar desprezo?!»). Se eu posso qualificar o desprezo de activo, ele é desprezo, e é activo, e mais nada (por enquanto). Quanto mais não seja, mesmo na declinação do desprezo em não-actividade (não reconhecimento do desprezado), isso já é actividade, donde essa definição é de um fechamento perfeitamente espúrio. E mais não digo, senão ainda dissertava sobre desilusão e ilusão e, como é fácil perceber, devo evitá-lo a todo o custo (control yourself, man!). Pois que, quanto à encomenda («mercantilização do meu intelecto superior» é um achado neo-ou-nem-tão-neo-marxiano notável), como é óbvio, já estou a enredar o que quero, e com sucesso assinalável, como se comprova com a sucessão de insultuaria. Não fosses tu bom e são (não estou a falar do teu «problema de saúde», claro) moço, avesso a essas coisas supostamente histriónicas de masoquismos e tais, e terias percebido isso.

Quanto à grata toada insultuosa, embora a «besta» pudesse ser um lamentável downgrading a contrariar os caritativos/cândidos/perversos (contigo nunca sei, embora saiba) «se te desprezasse...» e «seria incapaz de te perdoar», porque seria certamente desprezo estares a desqualificar-me com apodos cada vez mais possidónios, como é insulto que vem redimido na toujours repimpada construção retórica em que vem (a circunvalação irmanada da besta, claro), ainda é petisco válido (ou talvez nova metodologia para o refinar) para os masoquismos que me atribuis.
(hã? ah sim!)
"Au..."

eduardo b. disse...

Esta mania dos sósias é outra que eu não percebo. Já o Pedro Mexia anda sempre com aquela do Seymour Hoffman quando, conhecendo os dois apenas de imagem bi-dimensional, não consigo ver onde estão as semelhanças. Devo ter de arranjar um, também.

Anónimo disse...

Hiting bellow the belt... Very well. Embora o encaixar-me numa mania ainda por cima encabeçada pelo Mexia é tão risível que não funciona muito bem como insulto. Estás a perder qualidades (e eu estou redundante, je sais). De qualquer forma, espero que não me estejas a pedir sugestões sobre o teu sósia possível. Já sabes que não opero em circunstâncias onde tenha a upper hand da assimetria, ainda que fosse para lhes dares a volta. Só sei é que estragaste o post com uma foto da Tina Turner a dizer que o meu sósia tinha umas pernas bem jeitosas. Desmancha-prazeres.

eduardo b. disse...

Upper hand da assimetria? Essa é boa. Convencido. O que é risível é a tua comparação. Ainda que o Manuel Barrueco optasse por um look mais esgrouviado/capilarmente caótico, aquele nariz não dava hipóteses. Ou aliás, o teu nariz não dava hipóteses.

E que eu esteja a perder qualidade é, mais que uma boca um bocado gasta, um grande elogio.

Mais: eu não preciso de um sósia. Haverá alguem no mundo que precisará de um sósia e esse sósia serei eu, agora o contrário, caro Yester, era só o que faltava.

Julinho disse...

Ora, digo logo que «não opero em circunstâncias onde tenha a upper hand da assimetria, ainda que fosse para lhes dares a volta», e que fazes? Queres dar a volta ao que não tem volta para dar. Ai, ai, esta estouvada malta...
A upper hand da assimetria era obviamente situacional, não intrínseca. Como tal não posso ser "convencido" quanto à dita cuja pois não respeita a nenhuma atributo ou qualidade minha que me pudesse dar a upper hand. Aliás, o facto de ser situacional manifesta-se na tua trôpega e a espaços cruel (o que perdoo no pressuposto da ignorância e coincidência da referência em questão) tentativa de a reverter comparando-me gratuitamente (seja lá quais forem os seus termos) na efectividade da similitude bidimensional ao Barrueco. Se já é claro que a comparação não faria sentido no que lhe dá notoriedade, o facto de eu ainda assim o ter denominado sósia implica obviamente que possui qualidades estéticas, ainda que num padrão eventualmente (porque não interessa nada) similar, superiores às das minhas pobres carnes. A menos que a minha referência fosse jocosa. Mas quem faz jocoso com o Barrueco é uma cavalgadura (o que não anula, bem sei, a possibilidade de o ter feito, mas aí não posso argumentar mais). Por todas estas razões, o teu "convencido" não é o overstatement, mas o what-in-the-world?!-statement, das 8:52pm. Vê lá se atinas esses vitupérios. Até porque a revanche (?!) ao que pareces ter ressentido como injúria (estares a "perder qualidades") é do calibre contraditório de um «tu é que és». Felizmente, quanto à matéria do teu sósia, claro, acabas em beleza, se o tomares isoladamente. Mas, lamento dizê-lo, algo esquizóide, o que se compreende se for intencional, para guardar a upper hand retórica, mas se não for, dá lá uma olhada nessas sinapses. Que primeiro dizeres que se calhar precisas de arranjar um, para depois dizeres que quando muito alguém te pode é usar como sósia, deixa este texto mais cheio de buracos que o pneu que tive que mudar a semana passada.
E como ainda me dói o braço, desprovido de bíceps lustrosos nutridos em ginásio, como os que te fazem o sósia de muito wanna-be deste mundo, retiro-me para o meu tugúrio alumiado a vela para que não tenha que encarar os meus contornos. Ugh.

eduardo b. disse...

Pois, mas que o upper hand era situacional percebi eu, e foi nesse registo que, por assim dizer, operei. Por mais que o resto do meu comentário não faça sentido, essa parte faz, e, lamento, por mais que te esforces por esvaziar de sentido a minha reatliação, o que até era previsível, you won't get away with it.

Quanto às minhas incoerências subsequentes que tenha produzido, acho que é uma falta de educação da tua parte, sabendo-me uma pessoa doente que não se pode enervar, estares-me a atirá-las à cara. Shame on you, Yester.

Anónimo disse...

Vá, vá, pronto, assoa o nariz à manga. A ironia do teu queixume é por demais cortante para a sublinhar, porque sublinhada faz-se gume (isto não é discurso guerreiro, bem entendido, faço-te o afago sincero de quem escusa a referência das pontadas). Pelo que fico caladinho à espera que saltes aguçado para nova refrega, de cujos termos só tu és senhor, porque assim alguém o quis.
Have a nice day at the gym. I'm afraid I won't.

eduardo b. disse...

Como é que sabias que fui ao ginásio? Isto é assustador... Se calhar é da upper hand situacional!

Anónimo disse...

My lips are sealed... (agora não tenho bem a certeza se isto tem a ver com a upper hand situacional ou se foi uma frase que estava apenas à espera de uma chance para take an unfortunate life of its own).

eduardo b. disse...

Bem, digamos que não era a primeira vez que te "aproveitavas" de informações esparsas que eu dou no blog ou aqui para acertares em cheio... Isto assim vai de Lombroso a Alain Kardek que é um instante mas, convenhamos, sem grande mérito a não ser o de teres

a) um subconsciente hiperprodutivo ou
b) demasiado tempo livre.

Anónimo disse...

"Aproveitar"?! Agora desenhas-me como um reles ácaro a alimentar-me dos teus flocos de pele ressequida desajoujada no dia-a-dia dos teus afazeres. Ao que chegámos... Estava só a ser irónico para não desalinhar a compostura afligida. E posteriormente a aproveitar, claro, para me armar em panóptico de merda. Mas sabes bem que não te deixaria (muito tempo...) a olhar para trás do ombro. Na hipótese Kardec (se fôr o Kardec que descobri no Google, agora até tenho que fazer trabalho de casa para escrever, lindo serviço) não sei bem para onde olharias, mas stranger things have happened. Pelo que nem me concederei a comentar as tuas hipóteses explicativas de incréu, nem introspecção psíquica nem social me poderiam fazer bem nestes tempos. You should know better. The shame is on you, Eduardo.

eduardo b. disse...

Imaginar-te na labuta de aproveitar os meus flocos de pele ressequida é uma imagem que me agrada. Não sei dizer-te porquê — ou se calhar sei mas não me apetece. Seja como for, e isto agora aplica-se também como resposta ao resto (se é que), as razões não são muito importantes. Isso é conclusão (se é que) a que já chegámos, de resto, há meses. Serve-te agora de refúgio. Muito bem. Consigo viver com isso. Stranger things have happened.

Anónimo disse...

Refúgio de quê, meu bom, conquanto aparentemente algo bitter não sei porquê, Eduardo? Que a imagem te agrade, não surpreende. Que seja bom descritor do que esses meses já contaram, humilde e desprendidamente posso reconhecer. "Se é que", muito bem intercalas. Sempre «se é que», como desde sempre. Agora, refúgio? Que me façam de tolo, é compreensível. Mas para me comunicar algo, seria mais assisado que me tomassem a priori por um. Que eu disfarço, mas sempre confesso essa minha natureza. Refúgio?... Pelo menos se consegues viver com isso(?), coisas infelizmente mais inquietantes vou ouvindo. Mas suponho sempre faz bem a distracção.

eduardo b. disse...

Mas eu tomo toda a gente por tolos, Yester, e tu não és excepção. É essa a face tenebrosa da minha insuportável soberba. Refúgio de quê, perguntas tu — e perguntas muito bem.

Anónimo disse...

Ná... está tudo muito certo, pois sim, mas o "insuportável", como se aqui prova quasi-ad-infinitum, não se confirma. Vá, mais um esforçozito a ver se lá chegas. Mas sem garantias... Os tolos, por vezes, têm formas muito estranhas de nos desapontar. Como que se fossem uns idiot savants virados do avesso. Qualquer coisa assim.
Quanto ao perguntar muito bem, na verdade dou-me conta que a pergunta «refúgio de quem?» tomou precedência sobre o «refúgio de quê?». Mas como bom tolo, para todos os efeitos subsequentes, vou fingir que não vi.

eduardo b. disse...

Sim, sim, eu agora agradecia era que me explicasses o do i hear 21. Conheço da canção do Scott Walker (que está quase a regressar) que é dedicada ao Pasolini, mas como a minha ignorância da obra de Pasolini é quasi total, a referência passa-me ao lado. Conto contigo para, imagine-se, me esclareceres. Quanto ao resto, vou fingir que não vi.

Anónimo disse...

(ah, ah ah ah, ah, ahhhhh... ai ai...) muito boa mesmo, essa do «conto contigo para (...) me esclareceres». Como é sabido (imagine-se), não estou equipado para tal, nem sequer para perceber o que queres que te esclareça. Se conheces a canção, e sabes que é feita «remembering pasolini», que mais é que há a saber? Para o que o teu relativo desconhecimento da obra do pasolini (como o meu, e ainda estou à espera de ver melhores filmes, que até agora só me agarrou, agarrou, o belíssimo «Evangelho segundo Mateus») também não me parece relevante: a canção soa-me essencialmente uma figuração evocativa da noite da sua morte, pelo que as referências à obra, a haver, serão escassas e esotéricas. A única que vejo é a referência ao Nineto Davoli, actor central em Pasolini (pelo que, até por aí, não será propriamente referência à obra). Pelo que o que queres saber me escapa. A mim, aquela assombrosa (e assombrada) cadência inicial (o «do I hear 21. pausa. 21. pausa. 21»), sem que lhe saiba de significado cifrado reconhecível, já se volveu em todo o simbolismo necessário para me suscitar essa evocação (tanto que dela me lembrei, ora pois). E conquanto se pudesse dissertar sobre o que quer enunciar, esse simbolismo despido e transmutado em plenipotente pode ser precisamente a sua vocação maior... Por isso, se para essas coisas, precisas de racionalismos mais sistemáticos, mais uma vez lamento desapontar-te, mas eu faço-as de forma gratuita e leviana, como se vê. Eventualmente, tipo a fingir que sei alguma coisa. Talvez como forma mais eficaz de demonstrar que não sei.

eduardo b. disse...

Ah, portanto tu também foste buscar o do i hear 21 ao Scott Walker. É que eu tinha esperança que tivessem ido os dois buscar a algum mesmo sítio. É que eu tive esperança que pudesses de alguma forma ser útil. Eu às vezes sou um bocado ingénuo. Mas no fundo até nem sou boa pessoa. Enfim, obrigado pelo esforço ou lá o que foi.

Anónimo disse...

Ahhhh.
Pois.
Não.
Boy, you really are naïve.
Oh beibi (como escreveu já não me lembro quem), who hurt you?
Sempre ao teu dispôr.