sexta-feira, 3 de março de 2006

Mulheres à Moda Antiga

Como tínhamos mencionado, entre os homens à moda antiga que nos acompanharam na despedida e acolhimento cinéfila de 2005 a 2006, vieram também acolhidas no pacote mulheres à moda antiga. Neste caso, escolhemos um excelente e menos óbvio (como más nos gusta) exemplo dessa possível declinação de ser feminino, a emparelhar com o scotsman de Roger Livesey a acompanhar os rumos ínvios de quem reza, ao engano, I know where I'm going, sob o olhar sumamente encantatórios dos superlativos "arqueiros".
Para além de uma datação de carbono 14 semelhante à dos nossos homens à moda antiga, na sua ars vivendi, o nosso acolhimento da expressão "mulheres à moda antiga" dá-lhe um sentido ainda mais rebuscado para a justificação das inclinações estéticas e existenciais epidérmicas. É que o entendimento dessas mulheres à moda antiga, que nos/se resgatam, é o de mulheres que se movem dentro de quadros socio-culturais relativamente cerrados do que é ser mulher, vergando-lhe os limites sob a indulgência idiota outorgada ao feminino precisamente por tais quadros (nenhum exemplo mais clássico que Marlene, a acoplar-lhe o beneplácito do estrelato - e fatalmente se erige o apodo lesbiano como pretensa, sem julgar de validades absolutas, chave de compreensão de tais heterodoxias representativas). Usar, pois, a definição indulgente dos limites da circunscrição para uma condição pressuposta menor, para os estender em pontos cardeais outros. Nesse jogo de cintura se fizeram alguns dos mais assoberbantes retratos de mulher no cinema.
Ora, junto com a parelha de homens à moda antiga que instalámos neste privatismo iconográfico, esta é a mulher à moda antiga, de bestial verve telúrica e aberta, que na sua assombrosa aparição deixa que, para quem tenha dúvidas quanto à bondade e justeza da expressão (nada de misoginia ou patriarcado incorporado aqui), não se careça de mais que o assomo clarividente da corporalidade e do olhar. Senhores, o olhar.

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