Sessões contínuas na Barata Salgueiro (2) - (Re)Ver os bem-amados
Quase se alivia o desvalido das artes, a roçagar na carpete as rugas da rotina, sem conhecer na pupila o fulgor da danação de jogar e empenhar destinos.
Ou como a mitologia faustiana sempre foi de terrenas conjuras, mesmo quando no sopro expressionista do transcendente tomáramos como sempre presente o corpo insidiosamente tomado pelo fatal penhor das carnes cindidas no divisar das devoções (o assombro do bailado da ausência, lá está).
Para os cultores do bom-gosto sempre ditado por hodierna pauta, este extraordinário paradoxo a saltar as raias da datação os deixe a matutar: o artificialismo expressionista (da fotografia do sempre genial Jack Cardiff à carregadíssima maquilhagem que, reparem - será impressão minha? - se vai diluindo com o carregar do tempo da queda - la chutte) levado a cúmulos de antanho no (etimologicamente) inacreditável bailado, opera afinal como meio de decantar a lenda nos terrenos do real. Configuração da mais exímia materialização da dualidade do fantástico em película: ao mesmo tempo respirando do seu alento sobrenatural, e com os pés assentes apontando para o verdadeiro húmus chão das suas raízes.
A verdadeira tragédia (para quem não repare) foi toda feita de humano urdir. O demónio de Fausto sempre foi leitmotif. Os fautores das danações, depuradas e cristalizadas em metafísicas vestes pelas humanas culturas, sempre fomos nós. Terríveis nós. Pobres nós. Gigantes "arqueiros".
terça-feira, 21 de março de 2006
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