segunda-feira, 20 de março de 2006

O Lexicógrafo (alusão em pálida peripatética litografia resignada)

Ainda que encasulado em todas as cautelas à enunciação parabenística, não resistir a esta sussurrava o cogito ser ainda mais descabelado despautério. Cindido na recuperação inane de argumentação na urdidura signíca da volvida alienígena língua que me envolve, ressaltava humilde baboseio: qual o sentido de o dizer, e como o dizer, a quem me faz ameaçar desistir do dicionário? Senão que na babélica unicidade (há muito que se não carece de mais que uma papila para o efeito) de tal dizer cornucópico, o resgate, aqui e ali, de um entendimento feliz amansava a contracção muscular do juízo (que nos tolhe todinhos), e deixava o desanimado harmonizado. Para mais, exorcizava, para o circunscrito, que somente se lá retornasse para, na cara de trouxa, se medir a distância simbólica de doutos folguedos. Ilusão benquista, q.b. para seu remendo, que se afanicou agora mesmo da penúria de seus mantimentos.
E assim, doravante manteria o silêncio sorridente, pois que era certo também que não seria das classificatórias precisões, que nunca empinaria, que se derivava o sentido, oculto nas fibras da carcaça. Aberto na autoridade do pleno acaso, João fixaria o sensato, quietinho cogitato, que «burro não é gato e nem cobra, para querer enxergar no escuro». E adiantar-se-ia finalmente um cônscio, apaziguado, parabéns.


(tentei com o gatinho, mas tropecei na rigidez da iconografia pré-formatada)

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo, haverá algum satélite que nos possa ligar?! Bj

Anónimo disse...

Humm, portanto armei-me em esperto e deu borrada? Era só para parabenizar alguém (justifica-se o caçula)... Foi um pequeno tropeção nos subtextos da intertextualidade blogosférica, o que nem é muito o meu jeito, pelo que o satélite será eventualmente o universo do parabenizado, sem o qual a coisa não fará muito sentido (se é que mesmo aí faria...). Como o cavalheiro o merecia, não resisti, mas prometo não reincidir (demasiado), trapalhão, em tal pretensão retórica. Para bem da comunicação e de mim mesmo. Reli a coisa e fiquei a ponderar se o elogio não poderia soar a vaga injúria. Para evitar equívocos, e para o que de mim releva, podemos dizer directamente que eu sou um (o) burro contente e apaziguado em face do incólume e louvado orador parabenizado, mui recomendável, apesar do fraco recomendante (mais uma vez, eu).
E, que raio, de vez em quando não faz mal deixar os sentidos à espreita no ignoto cenário que os desperta. In a certain frame of mind, e se a coisa conseguir pelo menos soar bem, talvez o satélite nem seja requerido (tenta ele - eu - salvar a face...).
Bj

Anónimo disse...

Não procures salvar o que não está em risco. A tua face é como é e devo dizer que gosto, ainda que corra o risco de te estragar a noite...! Quanto ao satélite, talvez eu tenha sido movida por sentimentos inconfessáveis e me tenha visto obrigada a recorrer à metáfora tecnológica...sem êxito. Bj

Afonso Bivar disse...

Julinho,
a nota de esclarecimento (aqui, na caixa de comentários) por mim era dispensável. O trabalhinho que a coisa deve ter dado impedir-me-ia de ter pensamentos diabólicos, encapelar-me portanto na congeminação de uma (doce) injúria. Pelo menos na primeira leitura - agora em todas. Sou mesmo um narciso do caraças - facto que só a espaços abona em meu favor.
Obrigado pela prosa - muy, muy elaborada - e, claro, pelo assinalar da data.

Anónimo disse...

Cara pk?, poderás gostar da minha face, porque não tens que cingir-te à materialidade de gramar a própria dita cuja ao espelho , como o seu pobre portador (tentei quebrá-los mas os meus dias de veleidades de Vampyr desvaneceram-se com a ortodoxia avant la lettre dreyeriana). Daí que assomares na minha noite nunca por nunca configurou nada senão grata aparição. Já as metáforas, pois é vero, temo que sejam recurso ao qual sou perfeitamente tapadinho, pelo que o seu emprego para me interpelar nunca pode extrair senão um penitente hã?. Mas também convicto, pois que os hãs? são das coisinhas mais produtivas que há. Não te afobes de satélites pois, que há vias bastas para os dizeres desaguarem.

Anónimo disse...

Caro Afonso, havia-me esquecido dessa peculiar hermenêutica, que nos cifra as intenções nas estruturas em que (não) pensamos, em vez de nas palavras em que nos afadigamos. Cabras... Embora também essa não fosse full-proof. Muita baixaria já vi por esses mapas de bits afora com os requintes mais malévolos de insídia. Não obstante, chegar a insídia a este grau seria, de facto, demasiado ambivalente para tal sanha ambicionar produzir o dano seu fito, afinal.
Narciso, as us all, mas eu na vertente de pedra no charco, registo com candura a pat on the head (que a prosa estava mesmo a pedir...), e juro (mesmo as juras não sendo garantidas) que na improvável circunstância de cá vogar daqui a um ano, nos pouparei de recauchutar o léxico que já deixei à míngua de reservas, para me cingir ao, afinal, vocábulo singular que nos outorgaram para com eficácia assinalar justamente tal data, já que a sinceridade de tal neste labor (mais de editing do que de babling, confessemos) já ficou gravada para tempos futuros.
Deposito aqui os meus agradecimentos também, não só porque constitutivos do que leva a assinalar tal data (ora pois), mas porque é de motes alheios que mais me apraz esgravatar arrazoados, pelo que, no verdadeiro sentido da expressão, o prazer foi meu (só não que digo que foi todo meu, pois que é rude gula não deixar um naco para os gratos convivas).

Anónimo disse...

Procurei o leito desse imenso desaguar a que te referes, Julinho. Claro que não me cingo a gramar a minha face espelhada onde quer que seja, apesar de reconhecer que me tem invadido uma certa dose de narcismo. Não me castraria desse modo tão imprudente e cruel. Mas confesso que me expando também por motivos egoístas (ainda que «profeticamente» partilhados nos seus resultados), a ânsia de concretizar complementos...

Julinho disse...

Ora, na verdade os eventuais egotismos não foram nos resultados, mas logo na origem (estás a ver que levo mesmo ao engano, e tenho que salvar o meu palavreado): a face de que falava em gramar ao espelho era a minha, não a tua (era o que faltava, dela me pronunciar). Que é como quem diz, o aprisionar-me na fala blogosférica foi o meu contributo estético para a humanidade. Que é como quem diz que os desaguares (nunca imensos... não exageremos) que conhecemos se escoam por margens de restrição. Sem esta margem, não conheceria esta via sua foz. Pelo que não há confissão que se justifique, mesmo nas ânsias que se agigantem. Há só que sopesar do que retém uma corrente, e do que se abdica para o arroubo das marés. Os satélites, portanto, são o menos, vias da vaga para a resoluta (quando é o caso) dissolução. (já que nos perdemos nas metáforas...já é desaguar simpático de si...)

Anónimo disse...

Apressas-te a desaguar definitivamente e fechar o que ainda não abriu. Não há nada como nos deleitarmos nessas margens e aí...surpreendermo-nos com os desaguos, não importa a estreiteza dos seus caminhos, nem a potencial dimensão cúbica (que, com optimismo, espero que nos surpreendam sempre). Quanto ao contributo estético, adivinho-te uma medolia nos olhos...

Anónimo disse...

Wise words. And kind words.