terça-feira, 22 de novembro de 2005

A Efémera?!... A EFÉMERA?!?!?!

A sociobiologia já é o que é (e é perigosa, não deixemos a imagem dos animais fofinhos e a facilidade universalista da explicação biológica para os males humanos distrair-nos das falácias lógicas). Agora a sociobiologia de café, não há pachorra.
Anda para aí um anúncio cretino, da safra do vamos-vender-telemóveis-a-arengar-(arrotar-é-feio)-postas-de-pescada-muito-pseudo-very-profundas a aspergir-nos com a sabedoria da vida da efémera. “A efémera”. Que a efémera só vive um dia. Mas que a efémera não quer saber. Que a efémera curte o dia e tá andar. A vida é baril (a malta é jovem, se não nas pernas, no espírito, man), carpe diem pessoal, e comprem um telemóvel com um mês inteiro do vosso salário (que são 30 dias, pessoal, vivam cada um deles intensamente no duro), porque para aproveitar a vida precisam absolutamente (não tinham reparado?) que o vosso patrão possa ver ao telemóvel a vossa fuça esparramada no travesseiro quando já deviam estar no escritório.
Não escavaquemos inutilmente as absurdidades múltiplas. A efémera, to put it shortly, “faz carpe diem”, PORQUE É ESSE O SEU PRAZO DE VIDA!! A efémera, pessoal, não tem que se preocupar com empregos, socialização, empréstimos, ética e moral, famílias, relações sociais, doenças venéreas, efeitos secundários, burocracias e instituições, circunscrições e exclusões. Já NÃO SUPORTO que me venham dizer para viver a vida dia a dia. A nossa sociedade INTEIRA está erigida sobre o pressuposto de que a vida não dura um dia, dura muitos, quem sabe demasiados, pressuposto sobre o qual assenta a maioria das formas de auto-regulação pessoal que nos leva a não levar o querido livre-arbítrio às suas potencialidades trágicas como espetar este monitor na cabeça de quem diz estas barbaridades absurdamente moralizantes («se a sua vida é uma merda, a culpa é provavelmente sua, you’re not seizing the day!» ARRRGHHH!!).
Cavalheiros da sociobiologia de pechisbeque, se a vida humana se vivesse como a efémera, podem ter a certeza que no fim de cada dia os efémeros humanos não se esvaíam sozinhos, arrastavam outros com eles. Mas, e daí?, era só a "espécie" humana (e não há aspas suficientes para isto) a funcionar, não?...
Se eu FOSSE a efémera, viveria como a efémera, e seria feliz, porque era efémero sem apelo ou restrição.
Caso não tenham reparado, não é o caso.

pisses me off...», resmoneou, caso também não se tivesse reparado)

(Ocorre-me agora que se esta gente perdesse mais tempo a dar ouvidos ao Mr. “Felt” Lawrence nada disto acontecia.

«You almost wish you were dying
It would be an excuse to really live
»)

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