Escrita amiga, ao retribuir-me votos de bom ano, encerrava a missiva com um twist imprevisto à nomenclatura yesterday man deste espaço, afirmando que continuará a seguir «os devaneios do homem à moda antiga».
A expressão é-me por demais benfazeja, independentemente dos equívocos teóricos que para os over-rationalizers possa comportar, ao emanar nas minhas cordas sensíveis de toda uma estética vivencial singular, epidermicamente (ou ocularmente) capturada, que marca tanto a consciência de uma ars vivendi como a sua plena assumpção corpórea e temperamental em certo contexto cinemático, que marca um certo modelo de um certo modo de estar masculino (construído, claro, mas lá pela consciência disso não menos entranhável), que hoje decanta nesse lastro afectivo temporal de um existencialismo apaziguadamente resoluto (bem-resolvido?...), a nostalgia de uma perda cuja ressonância a faz também utopia agonística de aspiração e limitação. No fundo, a confrontação muito contemporânea com a visibilidade de certas possibilidades/concepções diversas dos homens que poderiam ter sido, e as possibilidades restritas dos homens que se pode ser, dado espaço, dado tempo (o que não é, oh de todo, o mesmo que dizer que todos os homens de dado tempo e espaço eram o que alguns possam apreender como homens à moda antiga, mas sim que em dados contextos, mesmo que plenamente só estéticos, essa era uma possibilidade de produção existencial, no entendimento que certos lhe dêem - expressão armadilhada, claro, mas a pupila está hoje a borrifar-se para isso. É aliás precisamente essa inefabilidade artificial que lhes dá o sopro anímico incomparável da aspiração).
Ora, nessa agridoce rememoração (daquelas em que pela natureza do doce amparamos todo o agri que possa arrastar) que essa missiva de novo ano me trouxe, a terminologia «homem à moda antiga» que ora me move surgiu-me tanto mais certeira no tempo, quanto, nos rituais a que no núcleo solitário nos prestamos a conjurar verdadeiramente os sentidos de passagem, terminei (sob o auspício das «Vozes do Outro Mundo» do sr. Bénard - mais tarde lá iremos) e comecei o ano, respectivamente, com os dois mais belos registos (no sentido "bénardiano", claro), de dois dos mais belos homens à moda antiga por excelência (dos mais gratos cá de casa, nomeadamente os plantados iconograficamente a encimar esta prosa (e quanto se escreve só para postar fotografias, no que uma fotografia mais diz)), pelos dois nossos mais que bem-amados "arqueiros", também à moda antiga, na criação da têmpera sempiterna na arte de quem certas ressonâncias humanas, parece que de antanho, ressente.
Acolhendo-nos aos sortilégios (que nos ensinam nos amparam sem apelo), não poderíamos, na face destas coincidências, desfrutar de melhor presságio (e o que escapa ao céptico é que a fruição só do presságio já vale por si)
Francamente, no impulso estouvado, só não altero já a nomenclatura deste espaço para «homem à moda antiga», porque claramente (está visto) a ambiguidade é mais produtiva. E não se anunciam (ainda para mais ao engano) homens à moda antiga, mesmo aqueles da constância rochosa na face do remoinho, (Michael e Emeric dixit, por imagéticas travessas).
(e, por maioria de razão, tendo sido uma benemérita mulher a abonar o meu ano com esta inscrição, em prezadas - tão mais, quanto complexamente o podem ser - mulheres à moda antiga ainda teremos que nos enredar. Curiosamente (ou antes, logicamente), do mesmo húmus inspirados)