sábado, 15 de outubro de 2005

Estereótipos

A observação é das menos originais possíveis, mas precisamente a recorrência do fenómeno que lhe dá origem requer também a recorrência da sua sinalização: invariavelmente, estando em bar ou café com uma presença feminina, o empregado não hesita um segundo em depositar o meu descafeínado nas mãos da minha companhia.
Se o denuncio, claro, é porque o reconfirmar da minha socialmente construída e simbolizada masculinidade («este gajo não tem pinta de um mariquinhas que bebe descafeínados!») só dura o segundo que entremeia com o esclarecimento de que o descafeínado é para mim.
É uma chatice, mas é inevitável, termos que fazer pedagogia às nossas custas (diz o macho, uof).

3 comentários:

Anónimo disse...

Que saudades dos descafeinados nos dias e noites de Coimbra. Mas já aceitei que a roda viva carrega a saudade e o destino para lá. Enquanto eu souber de ti, mesmo que em fugidios emails, terá valido a pena. Adorei o blog e por alguns minutos saí das terras da rainha e estive contigo em Portugal...

Julinho disse...

Pôxa meu bem. Era pra adorar a mim, não o blog! Ah, saco, não dá mais! Vou terminar essa joça! Isso já tá virando um repeteco daquela do «eu te amo por teu cérebro, não por teu corpo».
Ah, e não vai ficar falando pro povo (as outras 3 pessoas que cá vêm) da nossa vida privada (a propósito, na altura era cafés, cerveja preta e sanduiche de tomate com feta). Não tarda vai tá anunciando pro pessoar o grande e vigoroso amante que eu sou.
Bom, mas se esse é o único jeito de te tirar por um instante dessas terras deprimentes, tá bom, eu fico mais um pouco. Até porque "no peito a saudade cativa faz força pro tempo parar", e se tudo leva a roda viva, talvez o tempo se atarde mais um pouco pra gente ou nos embale noutro lugar.

Julinho disse...

Creio que a melhor forma de pedagogia é mesmo confundir os veículos da hegemonia. Só por isso, valia a pena trocar sempre os pedidos quando se veja a sua atribuição presumida a um perfil pré-definido. Mesmo quando isso implique dizer que o grogue é para a senhora e o Bloody Mary (blergh) é para mim.
Qual vergonha, qual carapuça: a vergonha é de quem presume que o real é um decalque das suas curtas vistas.