terça-feira, 11 de outubro de 2005

Manual de Instruções (a negar futuramente - a via do bom senso)

Estruturalmente, há poucas opiniões (já – em aparente contradição - a episteme de Foucault o dizia, com um pouco mais de palavras). Há menos opiniões interessantes. Há ainda menos opiniões válidas (e mais opiniões interessantes sobre o que é válido ou não). E demasiada gente a opinar sobre o que não interessa (excepto quando opinam a validade de opinarem o que não é válido nem interessa) – oui, c’est moi.
Os blogues tiveram o efeito social de dar espaço para cada vez mais indivíduos levarem essa sua condição moderna mais longe e tomar a sua opinião como algo válido para ser expresso publicamente por novas vias, mais distendidas. O que chateia mais gente que a democracia, mas menos gente que os sabichões de café.
Considerando que o mais certo era que se todos parássemos um minuto para pensar sobre o que se diz verificaríamos a redundância atroz de tantas palavras, tal seria um cataclismo psicológico de massas: socialmente inaceitável... Até porque a redundância não é grave. Na verdade as palavras precisam de diversos circuitos para circular por diversas gentes. Mas se olhássemos para essa redundância, talvez demonstrasse que neste ruído todo, (olha a novidade) nos interessam menos as opiniões que opinar. Tal não é evacuar de sentido as proposições que nos guiam o discurso e a acção (sendo que podem ser mutuamente contraditórias). Mas reconhecer que a sua expressão não pericialmente encaixotada (como pretende, em parte, ser o espaço de gestão esconsa da pessoalidade da blogosfera) é uma operação egocentrada. Pois se é de ego que se trata, assumamo-lo, porque não é tão drástico para o nosso posicionamento no real como parece. Os relativismos, incluíndo os egotistas, são enganadores no seu presumido autismo. Não nos percamos mutuamente em subterfúgios. Falemos do ego. Despudoradamente. Pois que a realidade virá certamente agarrada, é matéria pegajosa que se oferece a matizes diversos, e os matizes que lhe confiramos são a virtude desses egos, a sua relativa salvação social.
Bem vistas as coisas, desde quando é que a realidade nos serviu para outra coisa senão para nos situarmos nela?

1 comentário:

Julinho disse...

Muito bem dito. Esperemos que esta maneira faça algum sentido, para que os egos se reconheçam e complementem no que as suas construções permitam mais alcançar.
Para já, é muito bom ser benvindo. Gracias.