Someone Needs To Get BACK IN The Closet (1)
OK. A passagem do Sousa Tavares do Público para o Expresso era definitivamente o salto que lhe faltava para se arvorar em mártir S. Sebastião dos homens de cepa (e não digo homens à moda antiga porque os meus fiéis sabem que tal nomenclatura exige outro saber-estar) se o S. Sebastião não teimasse com os retratistas em o pôrem naquele gingado abichanado de anca e jeito afanicado na fronha (para confirmação/contestação é favor conferir aqui), em vez de se pôr ao desafio qual forcado dos touros bem-pensantes que afinal são mal pensantes (o pensamento de Sousa Tavares é complexo).
Isto é giro, porque assim se vão desenhando as linhas de fractura social que talvez ainda tornem este país interessante.
Pois vejamos de que se queixava este sábado o ilustre cronista (e eu juro que quando ele não se põe com estas mariquices marialvas - oops - eu gosto, pá, gosto do homem, diria mesmo que tenho muito amigos como o Miguel Sousa Tavares, sou impoluto; e quando se põe com estas coisas, é muito divertido, tanto que gasto o tempo que gasto a escrever isto).
O cavalheiro afirma-se, bufando no limite da sua estóica paciência com os atentados intelectuais da doxa bem-pensante, finalmente farto da ditadura do politicamente correcto, cujos contornos normativos o estão prestes a tornar um pária social caso não mantenha secretos uma panóplia de vícios (a palavra é Vícios, meus amigos, para 500 euros) cada vez mais condenados, perseguidos ou proibidos.
A lista é deliciosa e lá iremos. Mas a prova de que Sousa Tavares saltou as raias da lucidez, é que mesmo para os casos onde a sua fúria indignada poderia colher perfeita razoabilidade ele consegue dar a inflexão para manifestar que isto é mesmo tudo contra ele, e os da sua rija cepa.
Veja-se o caso da perseguição moral aos fumadores, de que Sousa Tavares se queixa: é óbvio que nos seus contornos discursivos e operativos as campanhas e certas políticas anti-tabágicas não se ancoram somente em questão "técnica" de saúde pública, e para o comprovar basta uma análise de conteúdo de 3 patacos ao tom e teor dessas campanhas, uma comparação com a menor atenção concedida a outros vícios atentatórios da "saúde pública", e uma análise do imiscuir nas garantias de liberdade estritamente individual - OMS anyone? - como se o indivíduo não tivesse direito de futricar os seus pulmões (e no entanto podemos, coisa bem mais daninha, ter que gramar com a Britney Spears nos altifalantes de um centro comercial) salvaguardado o não futrificar de pulmão alheio.
Mas o que acrescenta Sousa Tavares? Que fuma, «incluindo charutos». Ahh. Anátema. É que o SG Gigante é para malta fina, que escarra em cheio no cuspideiro. Agora, charuto... Só pra labrego de balão de conhaque aquecido ao pé da lareira com os pés a amansar o labrador depois da extenuante caçada, pobre acossado. O que com os outros vícios elencados, nos dá bem a medida que Sousa Tavares anda é com complexos de elite. Ou seja, já não deixam esta aristocracia plebeia, a pulso adquirindo sua distinção social, alardear a sua condição simbolicamente demarcada. E então, Sousa Tavares sente-se perseguido porque vai à caça, vai à pesca e à tourada; gosta de perdizes e pezinhos de coentrada e joaquinzinhos fritos (tudo sic., e duplamente sic. para os jOaquinzinhos... pOr favOr), joga cartas(!) e bebe(!). Enfim, um Manuel Alegre sem um milhão de votos, mas certamente com o chapéu e o bacamarte do Davy Crocket encostado à porta do modestamente apodado casebre no monte para aboletar chumbo no urbanita ufano a clamar pelos direitos dos animais (pézinhos de coentrada?!) ou pela infantilidade da pulsão para o jogo.
Ou seja, eu quero simbolicamente ser de elite, mas sem ser simbolicamente acossado como elite pela maralha que não é da minha elite, que é só prá minha elite. Percebe-se? Prontos.
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