quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Dívida de Sangue (nas metafísicas correntes)

Há seres, para lá de nossos pais, relativamente a quem, com certo tipo de propriedade, podemos dizer que devemos a vida. Não que lhes dediquemos mais do sentimento que se não pronuncia, do que a outros. Simplesmente, em dado passo situado da nossa vida se fizeram chão do passo seguinte.

Neste momento, surgem-me estes na mente (outros, que metafisicamente se não estivessem borrifando ou ofendendo com tão indigno evocador, não levem a mal, que os passos de uma vida não se resumem num post).


Sabemos que para tais dívidas, não há simbolismo, nem facécia de Dalí, que esconjure a dávida sem escolha ou pedido que nos segurou o passado e possibilita o presente.
Suponho que a única retribuição é deixar ecoar nos mistérios da consciência a imaginação de uma interpelação inconfessada à nossa estrita individualidade, apenas etereamente consignada às subjectividades que passem, a busquem, a acolham: «please keep me in mind» (ora vejam quem também resolveu aparecer…) .

Dito de outra forma, talvez a salvação não seja unívoca.

8 comentários:

Anónimo disse...

não sei sobre a salvação dos outros, mas você salvou o meu dia, quiçá a semana, com este poster.

Julinho disse...

Sobre a salvação dos outros também não sei, e por precária que seja minha palavra sobre o assunto, também não será grave, porque com esse nome de baptismo tem alma aí em cima mais que competente e suficiente para olhar por você.
E dessas pequenas e imensas dialécticas de salvação a gente vai persistindo, crescendo, respirando, aprendendo a nomear o que não tem palavra inscrita, pelo que os olhos outros ensinam só por olhar. Nesse sentido, seu comentário salva também um bocado de mim.

Anónimo disse...

Pensei em Lily Braun, Angélica,Bárbara ou qualquer outra das inúmeras mulheres de Chico, mas nenhuma causaria o impacto da
Ana de cabo a tenente, de toda patente, das Índias,do oriente, ocidente, acidente, gelada. Beijos

Julinho disse...

Bela escolha. Acho que concordo. É provavelmente o retrato de mulher (com nome) mais extremo, completo e inteiro do Chico.
Se calhar essa problemática ainda merece ser examinada e sublinhada.
Para já digamos que beijos de Ana de Amsterdam, nas barcas, com as marcas, as marcas, podem ser bem mais que os vinte minutos, as coxas queimadas. O que dirá ser Ana mais que o que tão inteiramente Ana se apresenta: «Sou Ana, obrigada.»
Beijos de volta pois, para tudo o que Ana mais alcança.

Anónimo disse...

«E nesses chãos de sonho, reconforto a esperança de ser eternamente temporal»

Anónimo disse...

«E nesses chãos de sonho, reconforto a esperança de ser eternamente temporal»

Anónimo disse...

Tem neguinho que não pode receber elogios. Só porque eu disse que o seu post tinha sido o salvador da minha semana não quer dizer que o senhor esteja dispensado de colocar outros no blog, ora.

Julinho disse...

Cê me caçou. Mas também me caçou uma constipação/gripe, e na verdade o corpo entorpecido atrapalha a escrita (toma lá Descartes).
E se for pra fazer durar uma semana, acho que esse não é mau poster para ficar pairando.
Veremos o andamento da coisa.
Entretanto, para pk?, que justamente bota a coisa a dobrar para vincar o chão que pisa, outras salvações são benvindas, para ocupar tal espaço.